domingo, 19 de fevereiro de 2017

Desculpa interromper, mas VOCÊS JÁ VIRAM ISSO?

Eu conheci o Daniel através de uma grande amiga e psicóloga, Debora. Descobri que ele fazia camisetas sobre doenças psicológicas. Quando entrei em contato com ele, contei a minha história, uma parte da minha batalha diária e ele conversou comigo, me passou palavras de calma. Daniel foi extremamente atencioso, muito compreensivo e bastante comunicativo. Ele se interessou pela minha história. E então ele compartilhou a dele.

Para quem não conhece, esse homem se chama Daniel Velloso, 31 anos e um grande vencedor na vida. Meu primeiro contato com a história dele foi através desses trechos:

"Olá, meu nome é Daniel Velloso e sou esquizofrênico.
Lembro bem do meu primeiro surto dentro de um shopping center perto da minha casa. Sensação que eu não quero que se repita e que não desejo a ninguém. Vozes, uma barulho na minha cabeça, tonteira, vista turva e fui carregado até em casa pelos bombeiros. 
(...)
Muitas coisas aconteceram dentre os dezoito aos trinta e um anos que me encontro agora, eu pretendo escrever a minha biografia. Mas o mais importante disso tudo é que eu venci. Hoje estudo psicologia e sabem aonde? Naquele lugar, naquele shopping onde eu passei mal pela primeira vez.
(...)
Viver pra mim está em primeiro lugar, ser alguém que sirva de exemplo de superação e que as pessoas podem ter esperanças. E agora fazendo faculdade, quero curar muita gente."
(Leia o texto completo aqui: http://www.fasdapsicanalise.com.br/desafiando-medicina-com-esquizofrenia/ )
Depois de muita conversa, descobri que Daniel é um escritor com três livros publicados e diversos projetos. Assisti a entrevista dele no programa da Fátima Bernardes (link no fim do texto) e fiquei encantada. "Como assim ele consegue dar a cara a tapa dessa forma? Se expôr dessa forma. Bem... É basicamente o que eu faço. Só que sem o programa da Fátima Bernardes". É incrível conhecer pessoas que passaram por problemas graves e agora estão dispostas a ajudar os outros porque reconheceram equilíbrio em si mesmas.

Bem, eu e o Guti adquirimos nossas camisetas e entramos nessa luta juntos.


Para quem quiser acompanhar o trabalho do Daniel Velloso, sigam a página dele no Facebook:
https://www.facebook.com/danvelloso/?fref=ts&__mref=message_bubble

E para os interessados na camiseta, ela está sendo vendida no Espaço Psi, que fica na Rua Conde de Bonfim número 310 (dentro de uma galeria, na cobertura), Tijuca. Procurem pela Eunice lá, ela é um amor de pessoa, incrível em todos os sentidos! (Eu nunca tinha ido no Espaço Psi e na primeira vez que fui todo mundo me conhecia???????)

PLUS! A ideia das camisas foi, de acordo com Daniel, "uma espécia de grito, pois a depressão é uma doença silenciosa". Daniel visita pessoas com transtornos psicológicos para ouvir suas histórias e dar apoio (ele também é palestrante). O dinheiro arrecadado com as camisetas é revertido para apoio a pessoas com depressão e outras patologias. 

E EM MARÇO TEM GRUPO DE APOIO LÁ NO ESPAÇO PSI, GENTE, VAMOS!

Espero que vocês tenham gostado e apoiem a causa. DEPRESSÃO NÃO É FRESCURA NÃO! 


Link da entrevista com Fátima Bernardes; https://www.youtube.com/watch?v=heK0GH6iL6w&t=146s

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Desculpa interromper, mas vamos falar sobre porque você não pode condenar alguém com depressão.

"Ele não sai daquele quarto"
"Ela fica chorando pelos cantos"
"Você realmente precisa se auto-mutilar?"
"Ela nunca tá feliz, coitadinha"
"O que falta na sua vida? Você tem tudo. Qual o motivo pra estar assim?"
"Você já tentou não ter depressão?"

Vocês já escutaram alguma dessas frases? Pois eu já. Inúmeras vezes. Acho que de todas, as que mais me incomodam são as duas últimas. Vou explicar por que. 

A depressão parte de um quadro de alterações químicas no cérebro (bem como a maior parte das doenças psicológicas), ou seja, os neurotransmissores ficam loucos na produção de hormônios importantes como, por exemplo, a serotonina, a adrenalina, a dopamina e mais alguns que não me recordo. O foco é: sim, é uma alteração química no cérebro e não, não é fingimento.

Eu odeio entrar em depressão. 

Muitas coisas passam pela minha cabeça. Há umas semanas atrás eu entrei em depressão. Eu perco o prazer de fazer todas as coisas que eu gosto (jogar, ler, escrever, escutar música), comer vira impossível e eu sempre uso a desculpa de que estou mal do estômago para ficar mais tempo na cama. Cancelo todos os meus compromissos (em piores casos, esqueço de cancelar e simplesmente não apareço). Não tenho coragem de olhar no espelho porque o que eu vejo é a coisa mais feia que já vi na minha vida. Começo a pensar em como meus amigos devem me odiar pelo que eu sou e que se eu fosse eles, já teria metido o pé, como consequência, acabo afastando a maioria pelo "bem deles". Já outros amigos eu tenho a certeza de que eles não se importam mais. Tenho crises de choro constante e corro para a cama da minha mãe, mas faço um puta esforço para não chorar. Me sinto inútil e solitária. Geralmente fico muito cansada e não consigo dormir e, se por acaso conseguir, é no máximo umas quatro ou cinco horas durante o dia porque passo a noite acordada olhando a parede. Posso ficar muito irritada por motivos pequenos, como alguém perguntar "Como você está?" NÃO É ÓBVIO QUE EU ESTOU MAL? Me sinto culpada por meus pais pagarem meu tratamento e eu cair tão baixo. Fico insegura de reprovar na faculdade e ser um peso para a minha família, perder um semestre. Uso as minhas piores roupas, esqueço que tenho maquiagem, posso passar dias sem tomar banho (sim, é nojento, eu reconheço). Não quero ficar em casa, no quarto, mas também não quero sair na rua e encarar as pessoas. Às vezes, encho a cara para passar o tempo ou me fazer dormir. 

Tudo isso junto começa a despertar em mim um sentimento de culpa e inutilidade muito grande. Mas muito grande mesmo. Essa é a parte onde eu apelo para auto-mutilação, humilhação e tentativas de suicídio. Tudo que eu sempre escutei, de como eu sou uma guerreira e consigo vencer isso, como eu consigo me erguer e ajudar as pessoas, me faz sentir uma impostora, uma mentirosa. Não, eu não consigo me erguer agora. Parece que todo mundo próximo me cerca para ajudar, tentando arrancar de mim esse mal e esperando que eu dê um sorriso e fique bem num estalar de dedos. Isso não acontece. Sinto que desapontei a todos. Pioro. 

Me irrito fácil quando mencionam que eu preciso de religião na minha vida, como se apenas a religião fosse retirar de mim todas as coisas entaladas e dolorosas. A angústia interna é tão grande que eu não me importo de me machucar. 

Mas não da última vez. 

Estava com muita muita muita raiva e precisava jogar isso pra fora, mas a única coisa que eu joguei longe foi a gilete. Alguma parte do meu corpo gritou "Não!" e eu joguei o troço longe. Continuei com os pensamentos ruins, sim, mas me esforcei ao máximo para que ficassem no pensamento, bem longe da realidade. A pior parte é que quando se tem um problema, é fácil pegar e resolver. Agora, quando você não tem ideia de qual é o problema e só precisa esperar passar, é muito difícil. Por isso odeio quando perguntam se aconteceu algo. Aconteceu. Estou deprimida. Por quê? Porque estou, você quer que eu desenhe meus neurotransmissores em crise para você? E poxa, sim, eu já pensei em tentar não ter depressão. A forma mais fácil é esfaquear meu cérebro ou mandá-lo para um adestramento biológico. Você pode me ajudar com isso? 

São as perguntas mais estúpidas que alguém pode fazer. 

Porém, eu me recuso a me render a essa merda. Ao primeiro indício de depressão, eu alerto as pessoas mais próximas de mim e marco saídas com elas, qualquer coisa que me tire de casa e me distraia, mesmo que eu saia daqui para chorar no colo da pessoa. O importante é sair. Querer sair, no caso. Eu tento ao  máximo bloquear os pensamentos inconvenientes, porque a depressão é uma mentirosa. Sim, a depressão é uma grande mentirosa. Ela te faz acreditar em coisas que não são reais. Então, não acreditem nela. É tudo uma grande mentira para fazer você se sentir péssimo.

Eu sei que dói e que o esforço é imenso, mas peça ajuda. É o que eu faço. Me sinto fraca e inútil pedindo ajuda, mas sei que é a única forma de sair ilesa da situação. É a única forma de me cuidar para poder cuidar das pessoas que eu amo. Pense por um segundo em algo que você ama muito: pessoa, animal, objeto. Se agarre nisso e lute contra. 

Se você está lendo isso e não sofre de depressão, não condene quem sofre. Não pense que essa pessoa é mais fraca, quando na verdade, ela é mais forte que você. Lembre-se que fazer piadas ou menosprezar os sentimentos da pessoa podem levar ao suicídio. Deixe-se disponível para que a pessoa te procure e desabe. Demonstre confiança e força. 

Se você não sente na pele, não desmereça. 

Somos mais fortes que um exército inteiro.