Ontem foi uma noite bem bem bem difícil.
Para algumas pessoas que vêem meu stories, eu fiz uma sequência de vídeos tentando explicar como eu me sinto, como estava me sentindo. E francamente? Eu estava com pouco controle de mim. Estava horrorosa chorando, mas desabafei em partes curtas o que eu penso.
As pessoas levam a depressão como se fosse uma palavra comum ou uma bandeira a se agarrar, uma causa. Para onde você olhar hoje em dia, todo mundo tem algo a falar sobre isso ou dar conselhos perfeitos para lidar com a situação. É engraçado porque em um livro que eu li, Restos Humanos, as pessoas começaram a aparecer mortas dentro das próprias casas "sem motivo aparente" e a imprensa desenvolveu uma campanha para que a sociedade (na história) se envolvesse mais com seus vizinhos, conversasse mais e evitasse que essas situações continuassem. É assim que eu vejo a depressão hoje em dia. Pessoas que tem: afundando. Pessoas que não tem: julgando ou levantando bandeiras sobre como ajudar.
E eu defendo que ajudem.
Mas vocês estão realmente ajudando?
Porque quando o seu amigo tem um caso claro de depressão e ele está rindo, você automaticamente relaxa e pensa que ele está bem. Porque se os pulsos dele estão lisos, então claramente ele está ok. Se ele saiu de casa, nossa, está curado.
Só que o buraco é bem mais embaixo.
Eu joguei a palavra "depressão" nas redes sociais. E olha quanta coisa veio vinculada.
"Mais uma noite chega e com ela a depressão..." (música da Kelly Key)
"se eu não for pra esse show eu entro em depressão" (esse show deve ser muito importante para desenvolver uma doença em você)
"aquela depressão depois de comer muita pizza" (aprendi hoje que comer pizza gera depressão)
"você sabia que depressão não existe?
a depressão foi apenas uma doença inventada para as pessoas que pensam em se matar acharem que estão doentes e não se matarem,a depressão também foi inventada para vender anti depressivos"
Depois de ler esses resultados (e mais 500, podem procurar), eu fico puta.
Porque a palavra caiu na mais pura banalização.
O amigo deprimido de verdade é o "pra baixo", que "estraga os passeios", "tá sempre mal", "corta a onda". Ele "não tem uma aura boa". Ele "é maluco porque ele toma medicamentos".
Isso sempre passa pela minha cabeça: as vezes específicas que x pessoas me chamaram de louca. E eu escuto e releio bem claramente na minha cabeça (eu não me esqueço). Talvez as pessoas pensassem que era só uma palavra e não ia me ferir, mas fere. Porque quando eu tenho uma crise e meus sentimentos nem pedem permissão, só vão saindo porta afora, eu sou "louca". Porque ninguém precisa acreditar nas palavras de uma "louca" sobre algo grave que aconteceu. E por aí segue. Então, eu odeio que usem essa palavra como ofensa para mim e sim, eu guardo muito rancor quando escuto essa palavra.
As pessoas estão tão cegas sobre a intensidade de uma depressão que chegam a um cúmulo. Querem um exemplo? Eu dou um exemplo, um de vários. Eu não acompanho o PC Siqueira (youtuber), mas na internet as notícias voam. Ele sempre foi muito atacado pelas coisas que ele faz como figura pública. A última de suas novidades foi tatuar o braço creio que todo de preto ou algo assim. Nada muito diferente do que o Oliver Sykes tem, um cantor que eu admiro muito. Após ser muito criticado nas redes sociais sobre a tatuagem e vários comentários babacas sobre sua ex-namorada, as pessoas criaram um bolão para apostar quando o cara vai cometer suicídio. Vocês tem noção da dimensão da crueldade? Elas falam como se fosse algo engraçado uma pessoa estar deprimida. Elas criam um bolão pro seu suicídio. E está tudo bem. Sempre está tudo bem.
Eu tento passar a maior tranquilidade e serenidade para as pessoas, porque tenho um pensamento muito fixo de que eu não sou a minha doença. Eu sou uma pessoa que consegue ser racional, profissional, mas tenho meus momentos. E nesses momentos, eu não uso as pessoas como vasos para vomitar, não mais - coisa que já fiz muitas vezes e sinto muito. Nos meus momentos, eu me recolho e digo que não quero conversar, peço um tempo para me acalmar e volto quando sinto que estou em condições de tomar melhores decisões. Eu não sou menos normal que você, que não é neuro-atípico.
Eu também sei jogar com sinceridade como qualquer ser humano, sei brincar, me divertir, surpreender as pessoas, sou competente, amo meu trabalho, amo a minha família e tenho pouquíssimos amigos (que eu conto nos dedos de uma mão), mas que mostram para mim como a qualidade importa mais que a quantidade. Porém, o contrário também está aí, não está? Eu tenho meus surtos, menos frequentes, mas estão aí. Eu implico com certas situações, eu grito, eu falo coisas de que me arrependo, eu desgosto de pessoas e essa listinha de coisas, se você parar para pensar, não é tão diferente das coisas que as pessoas "normais" fazem, só muda a intensidade da coisa.
Sim, eu penso em suicídio. Mas não é todo dia, toda semana, todo mês. Isso porque eu tenho me empenhado muito no meu tratamento para, ok, não ser uma pessoa especificamente feliz, mas para viver a minha vida ao máximo. Sim, eu penso em me machucar. Mas eu não me machuco há tempos, porque eu sei que aquela dor momentânea que vai me comendo toda por dentro e parece que vai me matar vai sumir em algumas horas ou dias e que eu posso cerrar os dentes e esperar ela passar, sem sangue, sem nada. Eu não saio quebrando tudo ou andando descontrolada pelas ruas quando estou mal porque eu penso nas consequências por um milésimo de segundo, eu penso na minha mãe. Minha família é o maior peso e apoio que eu tenho, mas a minha mãe... A minha mãe é a minha vida. Eu nunca ousaria morrer, por causa da minha mãe. O amor que eu tenho por essa mulher é absurdo. Foi ela que, com garras e dentes, brigou com a minha doença, me olhou nos olhos no momento de uma crise e gritou que aquela não era eu. Minha mãe não entende mais de 50% do que eu passo, mas em nenhum momento se negou a me escutar, a me aconselhar e a estar do meu lado. E isso é insubstituível.
Talvez pessoas lutando contra a depressão estejam num buraco mais fundo, talvez elas estejam sufocando e simplesmente não tenham que as escute e cuide delas. Você não precisa ser a pessoa que vai cuidar, mas não seja a pessoa que atrapalha.
Porque é nesses momentos ruins que eu lembro de uma frase que li por aí após a morte recente de Chester Bennington, por depressão: as pessoas só dão a mínima pra depressão quando você já está morto.
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