terça-feira, 7 de março de 2017

Desculpa interromper, mas podemos falar de coisas boas?

Meu cachorro Napoleão morreu essa semana. Eu sei, não parece um começo muito feliz, mas vamos chegar lá. Quando eu recebi a notícia, foi como ver uma cratera abrindo debaixo dos meus pés. Eu odeio perdas. Meu pai sempre me disse para nunca dizer que odeio coisas ou pessoas, porque é uma palavra muito forte: ódio. Mas nesse caso, eu realmente odeio perdas.
A pior parte da perda é quando cai a ficha da ausência. Você olha ao redor e não encontra o que está procurando e isso dá um aperto no coração absurdo.

Mas o que você faz com o luto?


Esse era o Napoleão com menos de 1 ano de idade.

É interessante analisar que mesmo me sentindo um lixo, eu consegui seguir mesmo que aos trampos e barrancos com as minhas coisas. Não faltei a faculdade. Não fugi das pessoas. Não fugi do que eu sentia. Como minha mãe me disse, o luto é uma coisa que precisa ser sentida; precisa ter começo, meio e fim. De alguma forma, você tem que transformar o luto em algo, aprender algo com ele.

Não posso dizer que estou bem, mas posso pensar que tem muitas coisas felizes aqui perto de mim em que eu posso me agarrar. E eu agarrei bem firme nessas pequenas coisas.

Ver as pessoas sofrendo pela perda me fez perceber que eu preciso cuidar delas também porque elas estão aqui, vivas e precisam de mim. Me fez enxergar porque é tão ridícula a ideia de querer me matar, enquanto as pessoas que ficam aqui, as que se importam, sofrem pela perda.

Eu pensei em diversas coisas.

Agora eu tenho um anjinho da guarda tempo integral comigo. Eu posso fazer todas as coisas que me deixam feliz, tirar tudo que me inibe, ignorar tudo que as pessoas falam para barrar minha liberdade. Eu posso cantar e se quiser eu posso cantar mais alto, posso gravar. Posso ficar mais próxima das pessoas que eu amo sem medo de dar aqueles abraços demorados de horas porque eu nunca sei o tempo que eu estarei com elas e todo o tempo do mundo é especial. Eu posso sair com a minha avó, levá-la para conhecer os parques da cidade ao invés de passar todo o tempo em casa. Eu posso viajar mais com os meus pais e apreciar as pequenas coisas que fazemos. Eu posso me desfazer de todas as coisas antigas e refazer meu quarto de novo. Eu posso voltar na Ilha e pegar quantas águas-vivas eu quiser na mão para fazer carinho. Eu posso fazer gentilezas a um estranho, surpresas a um conhecido, homenagens a alguém essencial.

Se nada podia me parar antes, não é agora que eu compreendo meu conceito de mortalidade que algo vai me barrar.

Minha sugestão para todos é se desprender dessa mentira social de prisão. Admirar e viver cada momento com cada pessoa de uma maneira especial, mesmo que sejam momentos breves: que eles sejam momentos marcantes e você esteja realmente ali.

Se tem uma coisa que se aprende com a morte, infelizmente, é apreciar a vida.

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