quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Desculpe interromper, mas vamos falar sobre Transtornos Psicológicos (dia 1).

Desculpe interromper seu dia, aposto que estava tendo um dia maravilhoso. Se você não ler isso até o final, prometo não ficar chateada. Aposto que você clicou aqui achando que encontraria algo formidável e agradável para ler, nesse caso, aperte X no canto direito superior da sua tela.
E não diga que eu não avisei.

Eu tenho um leve problema com psicólogos, no geral. Não que algum deles já tenha me feito mal ou me dopado à força (sim, eu já fui dopada à força e não foi por psicólogos, então a culpa não é deles!), é apenas uma questão pessoal. Eu tive/tenho uma psicóloga na vida e eu não poderia descrevê-la nem que fizesse uma lista absurda de adjetivos bons. Ela é como uma segunda mãe para mim. Posso concluir então que ela é uma clara exceção a regra. O meu problema é que a maioria dos psicólogos colocam os olhos em você, apontam e dizem "Você tem essa doença extremamente bizarra e vai precisar tomar esses sete remédios para se sentir bem. Ah! E continue aparecendo nas sessões de terapia até fazer 54 anos". (Se você não é esse tipo de profissional, saiba que eu admiro a sua existência do fundo do meu coração). Basicamente, eles decoraram livros e sintomas. Pessoas não funcionam assim.

Após muita conversa e especulações, eu tenho meu diagnóstico. Borderline. Por muito tempo eu tinha medo de dizer a palavra, como os personagens de Harry Potter nunca chamavam Voldemort pelo nome e sim de "Você-Sabe-Quem". Então, eu tinha "você-sabe-o-que". Alguns amigos próximos puderam observar de perto o desenrolar dos sintomas e não é a toa que poderiam se assustar (eu mesma me assustava). O ponto é: desistiram de mim? Não. Então vida que segue. Passado o período de aceitação "Ok, eu tenho isso, vamos lidar com isso", tudo ficou mais fácil.

O que me assustou mesmo foi quando eu percebi que boa parte das pessoas não sabe o que é ser border. Como eu sou péssima com explicações, procurei uma definição que achei leve e adequada na internet:

"Transtorno de personalidade limítrofe, caracterizado pelas mudanças súbitas de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos, como gastar dinheiro descontroladamente, por exemplo. Geralmente, as pessoas border têm momentos em que estão estáveis, que alternam com surtos psicóticos, manifestando comportamentos descontrolados. Esses sintomas começam a se manifestar na adolescência e se tornam mais frequentes no início da vida adulta."

"O transtorno é caracterizado por instabilidade emocional, impulsividade, manifestações inadequadas de raiva, baixa autoestima, tendência ao suicídio, insegurança, não aceitar críticas e regras, intolerância a frustrações e o medo pelo abandono. O portador do transtorno tende a ter seus relacionamentos sempre intensos, confusos e desorganizados. Mudam seus conceitos sobre as pessoas e seus sentimentos de forma muito rápida, tendo suas qualidades anteriores, atualmente desvalorizadas. Indivíduos com TPEIB podem ser incomodados por sentimentos de vazio crônicos, sentimentos de rejeição e abandono, não importando se isso é real/verídico ou fantasioso. Os primeiros sintomas tendem a aparecer durante a adolescência, persistindo geralmente por toda a vida. Como os sintomas tornam-se perceptíveis, a família costuma supor que a rebeldia, a impulsividade, o descontrole emocional, a instabilidade e a diferente percepção de valores são típicas da idade, não fazendo ideia de que estão diante de um distúrbio grave." 

Não parece tão legal, certo? Foi o que eu pensei. Em torno do transtorno de personalidade (qualquer um) existe o preconceito das pessoas. É comum sermos atingidos com palavras como "louco", "maníaco", "difícil de lidar" e até mesmo insinuações como "essa pessoa vai te arrastar pro fundo do poço" ou "ela vai destruir sua cabeça também". Não, nós não queremos destruir sua cabeça nem a sua vida. Porque não somos loucos, nem maníacos e, sim, talvez um pouco difíceis de lidar. Somos pessoas como você. Também brincamos, rimos, choramos, saímos com os amigos. Nossas reações podem ser mais exageradas que a de pessoas tidas como "normais", mas e daí?

Por que as pessoas têm medo de falar sobre? Por que as pessoas podem falar sobre câncer e diabetes, mas não podem falar sobre transtornos mentais? São doenças.

Lutar contra qualquer doença não é algo a ser desmerecido.

Somos sobreviventes. Existe um mini inferno nas nossas cabeças e não é raro perdermos o controle de nossas emoções. Tem dias que queremos nos enrolar no edredom e não parar de encarar a parede. Tem dias que evitamos as pessoas e horas depois aparecemos pulando de alegria. Podemos pensar coisas horríveis como "preferia não ter nascido", "todos os meus amigos me odeiam", "minha família vai desistir de mim". Nosso próprio corpo, nossa mente se volta contra nós e programa coisas absurdas que somos forçados a acreditar. Deprimimos. E depressão não é se sentir triste. "Ah, perdi a reprise da novela, estou muito triste, estou deprimida." Não. Depressão dá vontade de não existir, não se mover, não comer. Uma palavrinha errada que escutamos e podemos cair em prantos ou sair batendo portas. Então, se você está lendo isso e sofre de algum transtorno psicológico, porra, olha para você! Você está aqui. Você está vivo. Você está lendo essa joça. Você sobreviveu a incontáveis dias de merda e ainda está aqui, então você tem a capacidade de lutar mais e continuar aqui. Sua cabeça tenta te menosprezar todos os dias e ainda assim, você continua aqui. Por que não estamos celebrando isso?

Para os que estão aqui e não sofrem de transtornos psicológicos, olhem ao redor. Um amigo de vocês pode estar precisando de ajuda. Não estou falando daquela ajuda fajuta de mandar uma mensagem "Pode contar comigo" e sumir. A ajuda necessária é estar presente, mostrar que aquela pessoa é especial e importante, que ela é uma vencedora. É checar como ela estar. Motivá-la a não desistir. (Mas de forma alguma entre nessa se você sente que a pessoa é "difícil de lidar". Você não vai ajudar, vai prejudicar pois vai acabar a abandonando quando ela sentir que pode contar com você.) Seja forte por você e pela pessoa que precisa da sua ajuda. Entenda que os rompantes de raiva que ela tem não são totalmente culpa dela. Na maioria dos casos, ela está se esforçando para agir naturalmente, mas quando não der, somos vulcões em erupção. Aguente a lava com amor.

Não tem problema algum admitir que tem um transtorno diagnosticado. Só não se entregue a ele e não justifique todos os seus atos com a desculpa de ter uma doença. Quer saber? Faz melhor. Luta contra. O transtorno pode estar dentro de você, misturado em você como uma poção venenosa, mas ele não é você. Então mostra para todo mundo que você é muito mais que uma doença, porque você é.


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