Ontem foi uma noite bem bem bem difícil.
Para algumas pessoas que vêem meu stories, eu fiz uma sequência de vídeos tentando explicar como eu me sinto, como estava me sentindo. E francamente? Eu estava com pouco controle de mim. Estava horrorosa chorando, mas desabafei em partes curtas o que eu penso.
As pessoas levam a depressão como se fosse uma palavra comum ou uma bandeira a se agarrar, uma causa. Para onde você olhar hoje em dia, todo mundo tem algo a falar sobre isso ou dar conselhos perfeitos para lidar com a situação. É engraçado porque em um livro que eu li, Restos Humanos, as pessoas começaram a aparecer mortas dentro das próprias casas "sem motivo aparente" e a imprensa desenvolveu uma campanha para que a sociedade (na história) se envolvesse mais com seus vizinhos, conversasse mais e evitasse que essas situações continuassem. É assim que eu vejo a depressão hoje em dia. Pessoas que tem: afundando. Pessoas que não tem: julgando ou levantando bandeiras sobre como ajudar.
E eu defendo que ajudem.
Mas vocês estão realmente ajudando?
Porque quando o seu amigo tem um caso claro de depressão e ele está rindo, você automaticamente relaxa e pensa que ele está bem. Porque se os pulsos dele estão lisos, então claramente ele está ok. Se ele saiu de casa, nossa, está curado.
Só que o buraco é bem mais embaixo.
Eu joguei a palavra "depressão" nas redes sociais. E olha quanta coisa veio vinculada.
"Mais uma noite chega e com ela a depressão..." (música da Kelly Key)
"se eu não for pra esse show eu entro em depressão" (esse show deve ser muito importante para desenvolver uma doença em você)
"aquela depressão depois de comer muita pizza" (aprendi hoje que comer pizza gera depressão)
"você sabia que depressão não existe?
a depressão foi apenas uma doença inventada para as pessoas que pensam em se matar acharem que estão doentes e não se matarem,a depressão também foi inventada para vender anti depressivos"
Depois de ler esses resultados (e mais 500, podem procurar), eu fico puta.
Porque a palavra caiu na mais pura banalização.
O amigo deprimido de verdade é o "pra baixo", que "estraga os passeios", "tá sempre mal", "corta a onda". Ele "não tem uma aura boa". Ele "é maluco porque ele toma medicamentos".
Isso sempre passa pela minha cabeça: as vezes específicas que x pessoas me chamaram de louca. E eu escuto e releio bem claramente na minha cabeça (eu não me esqueço). Talvez as pessoas pensassem que era só uma palavra e não ia me ferir, mas fere. Porque quando eu tenho uma crise e meus sentimentos nem pedem permissão, só vão saindo porta afora, eu sou "louca". Porque ninguém precisa acreditar nas palavras de uma "louca" sobre algo grave que aconteceu. E por aí segue. Então, eu odeio que usem essa palavra como ofensa para mim e sim, eu guardo muito rancor quando escuto essa palavra.
As pessoas estão tão cegas sobre a intensidade de uma depressão que chegam a um cúmulo. Querem um exemplo? Eu dou um exemplo, um de vários. Eu não acompanho o PC Siqueira (youtuber), mas na internet as notícias voam. Ele sempre foi muito atacado pelas coisas que ele faz como figura pública. A última de suas novidades foi tatuar o braço creio que todo de preto ou algo assim. Nada muito diferente do que o Oliver Sykes tem, um cantor que eu admiro muito. Após ser muito criticado nas redes sociais sobre a tatuagem e vários comentários babacas sobre sua ex-namorada, as pessoas criaram um bolão para apostar quando o cara vai cometer suicídio. Vocês tem noção da dimensão da crueldade? Elas falam como se fosse algo engraçado uma pessoa estar deprimida. Elas criam um bolão pro seu suicídio. E está tudo bem. Sempre está tudo bem.
Eu tento passar a maior tranquilidade e serenidade para as pessoas, porque tenho um pensamento muito fixo de que eu não sou a minha doença. Eu sou uma pessoa que consegue ser racional, profissional, mas tenho meus momentos. E nesses momentos, eu não uso as pessoas como vasos para vomitar, não mais - coisa que já fiz muitas vezes e sinto muito. Nos meus momentos, eu me recolho e digo que não quero conversar, peço um tempo para me acalmar e volto quando sinto que estou em condições de tomar melhores decisões. Eu não sou menos normal que você, que não é neuro-atípico.
Eu também sei jogar com sinceridade como qualquer ser humano, sei brincar, me divertir, surpreender as pessoas, sou competente, amo meu trabalho, amo a minha família e tenho pouquíssimos amigos (que eu conto nos dedos de uma mão), mas que mostram para mim como a qualidade importa mais que a quantidade. Porém, o contrário também está aí, não está? Eu tenho meus surtos, menos frequentes, mas estão aí. Eu implico com certas situações, eu grito, eu falo coisas de que me arrependo, eu desgosto de pessoas e essa listinha de coisas, se você parar para pensar, não é tão diferente das coisas que as pessoas "normais" fazem, só muda a intensidade da coisa.
Sim, eu penso em suicídio. Mas não é todo dia, toda semana, todo mês. Isso porque eu tenho me empenhado muito no meu tratamento para, ok, não ser uma pessoa especificamente feliz, mas para viver a minha vida ao máximo. Sim, eu penso em me machucar. Mas eu não me machuco há tempos, porque eu sei que aquela dor momentânea que vai me comendo toda por dentro e parece que vai me matar vai sumir em algumas horas ou dias e que eu posso cerrar os dentes e esperar ela passar, sem sangue, sem nada. Eu não saio quebrando tudo ou andando descontrolada pelas ruas quando estou mal porque eu penso nas consequências por um milésimo de segundo, eu penso na minha mãe. Minha família é o maior peso e apoio que eu tenho, mas a minha mãe... A minha mãe é a minha vida. Eu nunca ousaria morrer, por causa da minha mãe. O amor que eu tenho por essa mulher é absurdo. Foi ela que, com garras e dentes, brigou com a minha doença, me olhou nos olhos no momento de uma crise e gritou que aquela não era eu. Minha mãe não entende mais de 50% do que eu passo, mas em nenhum momento se negou a me escutar, a me aconselhar e a estar do meu lado. E isso é insubstituível.
Talvez pessoas lutando contra a depressão estejam num buraco mais fundo, talvez elas estejam sufocando e simplesmente não tenham que as escute e cuide delas. Você não precisa ser a pessoa que vai cuidar, mas não seja a pessoa que atrapalha.
Porque é nesses momentos ruins que eu lembro de uma frase que li por aí após a morte recente de Chester Bennington, por depressão: as pessoas só dão a mínima pra depressão quando você já está morto.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
sábado, 22 de abril de 2017
Desculpa interromper, mas podemos misturar algumas coisas?
É isso.
Minha cabeça está uma bagunça, então essa postagem estará uma bagunça também. Estou pegando tudo e jogando no liquidificador. Vou misturar tudo. E aí talvez eu possa ser hipócrita e justa comigo mesma.
Eu já tentei cometer suicídio e não foram só duas ou três vezes. Foram várias. E olha, eu tentava tanto para punir as pessoas quanto para me punir. Sabe como isso soa estúpido? Você tentar se matar porque alguém te magoou tão profundamente que você acha que nunca vai superar aquilo e quer dar uma lição na pessoa através da sua morte? Sim. Você vai ler, você vai julgar. E vai dizer pra mim:
- É, Viviane, isso é estúpido.
Mas na hora, no calor do momento, não é estúpido, faz perfeito sentido. É como uma criança brigando com os pais e de propósito "fugindo de casa" por umas horas para preocupá-los. É maldoso. É egoísta. Mas é real. Não tenho o controle das minhas emoções nos poucos momentos de crise e essa era uma das coisas que eu pensava. "Espero que fulano nem compareça ao meu enterro. Pera. Que enterro? Eu quero ser cremada. Bom, não chore em cima das minhas cinzas. Não desperdice seu tempo se preocupando agora quando poderia ter se preocupado antes./ Espero que eu volte como um fantasma para assombrar a vida dele(a)./ Espero que eu não volte e ele(a) não consiga lidar com a culpa."
Agora, vai. Me chama de estúpida.
Já o suicídio para me punir eram sempre os piores pensamentos. Era quando eu achava que para começar, nem deveria ter nascido. Foi "meu primeiro erro". Eu só faço coisas erradas, eu não dou conta das minhas responsabilidades, eu não controlo meus impulsos, as crises vem e assustam as pessoas, meus pais gastam muito dinheiro com remédios por minha causa, não posso ser uma perdedora para sempre, ninguém se importa, ninguém liga, as pessoas DIZEM que ligam, falam muito isso o tempo todo, mas elas não ligam de verdade, elas não se importam o suficiente. Talvez se eu morrer, vai passar um tempo, todos vão esquecer e a vida vai seguir com menos problemas para todo mundo.
Era exatamente isso que eu pensava. Vai, repete. "Estúpida".
Mas eu não posso me matar para punir pessoas. Na verdade, elas vão cagar para isso. Eu vou é ficar aqui para atormentar a vida delas sabendo que eu estou viva, bem, feliz sem elas. Essa foi minha primeira decisão. E, bem, quanto a ter nascido. Eu nasci. Ok. Mas se eu não devia ter nascido, por que que quando eu era criança eu superei tantas doenças respiratórias e sei lá mais o que, em que o médico dizia para minha mãe que eu ia morrer? Lá nos meus auges de criança, eu já dizia mentalmente "Foda-se isso aqui, eu vou ficar."
Você não pode comparar as dores. Meu Deus, isso é insano e me tira a paciência. Eu sinto uma dor, lá vem a depressão de fininho, a pessoa vem e me diz "Ah, mas por que você tá assim? Sabe, tem gente na fila do hospital que não vai conseguir atendimento a tempo e vai morrer ali. Tem gente com câncer contando seus dias." Bem, eu sinto muito, de verdade, por todas as dores que existem. Mas nenhuma dor é maior que a outra. Todo mundo se sente de uma maneira singular e terrível com coisas diferentes, problemas diferentes. Eu odeio quando as pessoas dizem também "Eu só tenho ansiedade. Não é nada comparado a ter outros problemas maiores tipo bipolaridade ou esquizofrenia." Caralho. Ok, talvez você não tome mais quatro remédios além do que essas outras pessoas, mas você sofre. Você fica mal. Sua cabeça vai no inferno e volta. Por que você tem que se impedir de sofrer ou se diminuir por isso?
- Homens que me passam cantada na rua, eu não vou nem pedir desculpas por todas as vezes que eu virei, encarei vocês e dei o dedo do meio. Ou às vezes em que eu gritei "babaca!" ou seus sinônimos. Esse ponto é só para dizer isso mesmo: não estou minimamente arrependida de apontar que vocês são uns babacas, porque vocês são. Eu não pedi um elogio, ainda mais de cunho malicioso. Vocês me dão nojo. -
Ultimamente eu não choro mais. Não sei bem como funciona o processo de chorar. Parece muito complicado. Eu fico muito frustrada quando as merdas acontecem (ou quando meu cérebro faz as merdas) e eu fico com muita raiva. Eu chuto cadeiras, destruo objetos, quebro algo, soco a parede até esfolar a mão, mas eu não digo nada. Não derramo lágrimas. Acho que eu já chorei tanto nos últimos, sei lá, 4 anos, que eu tô seca. Não tem mais nada para derramar, mas tem uma porção de coisas para esmurrar e quebrar.
Descobri que não sei mais o que a palavra perdão significa para mim. É confuso, mas eu me imagino olhando certas situações que poderiam acontecer e eu diria "Olha, eu te perdoo por ser babaca", mas acho que não conseguiria. Não, não acho, tenho certeza. Eu só iria embora para não perder meu tempo. Eu não adotaria essa postura para qualquer pessoa ou por qualquer problema bobo que pode ser resolvido. Mas em certas situações... Bem, vocês podem todos irem a merda. Com carinho.
Eu não vou dar pitaco online sobre a série 13 Reasons Why. Aparentemente, todas as redes sociais já estão cheias de pessoas que sabem demais sobre o assunto e não querem argumentar, apenas apontar dedos. Cansativo, frustrante. No máximo eu vejo algo interessante e repasso, mas a minha opinião fica para mim.
Ah, claro, como eu ia esquecer disso...
Tenham um bom feriado.
Minha cabeça está uma bagunça, então essa postagem estará uma bagunça também. Estou pegando tudo e jogando no liquidificador. Vou misturar tudo. E aí talvez eu possa ser hipócrita e justa comigo mesma.
Eu já tentei cometer suicídio e não foram só duas ou três vezes. Foram várias. E olha, eu tentava tanto para punir as pessoas quanto para me punir. Sabe como isso soa estúpido? Você tentar se matar porque alguém te magoou tão profundamente que você acha que nunca vai superar aquilo e quer dar uma lição na pessoa através da sua morte? Sim. Você vai ler, você vai julgar. E vai dizer pra mim:
- É, Viviane, isso é estúpido.
Mas na hora, no calor do momento, não é estúpido, faz perfeito sentido. É como uma criança brigando com os pais e de propósito "fugindo de casa" por umas horas para preocupá-los. É maldoso. É egoísta. Mas é real. Não tenho o controle das minhas emoções nos poucos momentos de crise e essa era uma das coisas que eu pensava. "Espero que fulano nem compareça ao meu enterro. Pera. Que enterro? Eu quero ser cremada. Bom, não chore em cima das minhas cinzas. Não desperdice seu tempo se preocupando agora quando poderia ter se preocupado antes./ Espero que eu volte como um fantasma para assombrar a vida dele(a)./ Espero que eu não volte e ele(a) não consiga lidar com a culpa."
Agora, vai. Me chama de estúpida.
Já o suicídio para me punir eram sempre os piores pensamentos. Era quando eu achava que para começar, nem deveria ter nascido. Foi "meu primeiro erro". Eu só faço coisas erradas, eu não dou conta das minhas responsabilidades, eu não controlo meus impulsos, as crises vem e assustam as pessoas, meus pais gastam muito dinheiro com remédios por minha causa, não posso ser uma perdedora para sempre, ninguém se importa, ninguém liga, as pessoas DIZEM que ligam, falam muito isso o tempo todo, mas elas não ligam de verdade, elas não se importam o suficiente. Talvez se eu morrer, vai passar um tempo, todos vão esquecer e a vida vai seguir com menos problemas para todo mundo.
Era exatamente isso que eu pensava. Vai, repete. "Estúpida".
Mas eu não posso me matar para punir pessoas. Na verdade, elas vão cagar para isso. Eu vou é ficar aqui para atormentar a vida delas sabendo que eu estou viva, bem, feliz sem elas. Essa foi minha primeira decisão. E, bem, quanto a ter nascido. Eu nasci. Ok. Mas se eu não devia ter nascido, por que que quando eu era criança eu superei tantas doenças respiratórias e sei lá mais o que, em que o médico dizia para minha mãe que eu ia morrer? Lá nos meus auges de criança, eu já dizia mentalmente "Foda-se isso aqui, eu vou ficar."
Você não pode comparar as dores. Meu Deus, isso é insano e me tira a paciência. Eu sinto uma dor, lá vem a depressão de fininho, a pessoa vem e me diz "Ah, mas por que você tá assim? Sabe, tem gente na fila do hospital que não vai conseguir atendimento a tempo e vai morrer ali. Tem gente com câncer contando seus dias." Bem, eu sinto muito, de verdade, por todas as dores que existem. Mas nenhuma dor é maior que a outra. Todo mundo se sente de uma maneira singular e terrível com coisas diferentes, problemas diferentes. Eu odeio quando as pessoas dizem também "Eu só tenho ansiedade. Não é nada comparado a ter outros problemas maiores tipo bipolaridade ou esquizofrenia." Caralho. Ok, talvez você não tome mais quatro remédios além do que essas outras pessoas, mas você sofre. Você fica mal. Sua cabeça vai no inferno e volta. Por que você tem que se impedir de sofrer ou se diminuir por isso?
- Homens que me passam cantada na rua, eu não vou nem pedir desculpas por todas as vezes que eu virei, encarei vocês e dei o dedo do meio. Ou às vezes em que eu gritei "babaca!" ou seus sinônimos. Esse ponto é só para dizer isso mesmo: não estou minimamente arrependida de apontar que vocês são uns babacas, porque vocês são. Eu não pedi um elogio, ainda mais de cunho malicioso. Vocês me dão nojo. -
Ultimamente eu não choro mais. Não sei bem como funciona o processo de chorar. Parece muito complicado. Eu fico muito frustrada quando as merdas acontecem (ou quando meu cérebro faz as merdas) e eu fico com muita raiva. Eu chuto cadeiras, destruo objetos, quebro algo, soco a parede até esfolar a mão, mas eu não digo nada. Não derramo lágrimas. Acho que eu já chorei tanto nos últimos, sei lá, 4 anos, que eu tô seca. Não tem mais nada para derramar, mas tem uma porção de coisas para esmurrar e quebrar.
Descobri que não sei mais o que a palavra perdão significa para mim. É confuso, mas eu me imagino olhando certas situações que poderiam acontecer e eu diria "Olha, eu te perdoo por ser babaca", mas acho que não conseguiria. Não, não acho, tenho certeza. Eu só iria embora para não perder meu tempo. Eu não adotaria essa postura para qualquer pessoa ou por qualquer problema bobo que pode ser resolvido. Mas em certas situações... Bem, vocês podem todos irem a merda. Com carinho.
Eu não vou dar pitaco online sobre a série 13 Reasons Why. Aparentemente, todas as redes sociais já estão cheias de pessoas que sabem demais sobre o assunto e não querem argumentar, apenas apontar dedos. Cansativo, frustrante. No máximo eu vejo algo interessante e repasso, mas a minha opinião fica para mim.
Ah, claro, como eu ia esquecer disso...
Tenham um bom feriado.
terça-feira, 7 de março de 2017
Desculpa interromper, mas podemos falar de coisas boas?
Meu cachorro Napoleão morreu essa semana. Eu sei, não parece um começo muito feliz, mas vamos chegar lá. Quando eu recebi a notícia, foi como ver uma cratera abrindo debaixo dos meus pés. Eu odeio perdas. Meu pai sempre me disse para nunca dizer que odeio coisas ou pessoas, porque é uma palavra muito forte: ódio. Mas nesse caso, eu realmente odeio perdas.
A pior parte da perda é quando cai a ficha da ausência. Você olha ao redor e não encontra o que está procurando e isso dá um aperto no coração absurdo.
Mas o que você faz com o luto?
Esse era o Napoleão com menos de 1 ano de idade.
É interessante analisar que mesmo me sentindo um lixo, eu consegui seguir mesmo que aos trampos e barrancos com as minhas coisas. Não faltei a faculdade. Não fugi das pessoas. Não fugi do que eu sentia. Como minha mãe me disse, o luto é uma coisa que precisa ser sentida; precisa ter começo, meio e fim. De alguma forma, você tem que transformar o luto em algo, aprender algo com ele.
Não posso dizer que estou bem, mas posso pensar que tem muitas coisas felizes aqui perto de mim em que eu posso me agarrar. E eu agarrei bem firme nessas pequenas coisas.
Ver as pessoas sofrendo pela perda me fez perceber que eu preciso cuidar delas também porque elas estão aqui, vivas e precisam de mim. Me fez enxergar porque é tão ridícula a ideia de querer me matar, enquanto as pessoas que ficam aqui, as que se importam, sofrem pela perda.
Eu pensei em diversas coisas.
Agora eu tenho um anjinho da guarda tempo integral comigo. Eu posso fazer todas as coisas que me deixam feliz, tirar tudo que me inibe, ignorar tudo que as pessoas falam para barrar minha liberdade. Eu posso cantar e se quiser eu posso cantar mais alto, posso gravar. Posso ficar mais próxima das pessoas que eu amo sem medo de dar aqueles abraços demorados de horas porque eu nunca sei o tempo que eu estarei com elas e todo o tempo do mundo é especial. Eu posso sair com a minha avó, levá-la para conhecer os parques da cidade ao invés de passar todo o tempo em casa. Eu posso viajar mais com os meus pais e apreciar as pequenas coisas que fazemos. Eu posso me desfazer de todas as coisas antigas e refazer meu quarto de novo. Eu posso voltar na Ilha e pegar quantas águas-vivas eu quiser na mão para fazer carinho. Eu posso fazer gentilezas a um estranho, surpresas a um conhecido, homenagens a alguém essencial.
Se nada podia me parar antes, não é agora que eu compreendo meu conceito de mortalidade que algo vai me barrar.
Minha sugestão para todos é se desprender dessa mentira social de prisão. Admirar e viver cada momento com cada pessoa de uma maneira especial, mesmo que sejam momentos breves: que eles sejam momentos marcantes e você esteja realmente ali.
Se tem uma coisa que se aprende com a morte, infelizmente, é apreciar a vida.
A pior parte da perda é quando cai a ficha da ausência. Você olha ao redor e não encontra o que está procurando e isso dá um aperto no coração absurdo.
Mas o que você faz com o luto?
Esse era o Napoleão com menos de 1 ano de idade.
É interessante analisar que mesmo me sentindo um lixo, eu consegui seguir mesmo que aos trampos e barrancos com as minhas coisas. Não faltei a faculdade. Não fugi das pessoas. Não fugi do que eu sentia. Como minha mãe me disse, o luto é uma coisa que precisa ser sentida; precisa ter começo, meio e fim. De alguma forma, você tem que transformar o luto em algo, aprender algo com ele.
Não posso dizer que estou bem, mas posso pensar que tem muitas coisas felizes aqui perto de mim em que eu posso me agarrar. E eu agarrei bem firme nessas pequenas coisas.
Ver as pessoas sofrendo pela perda me fez perceber que eu preciso cuidar delas também porque elas estão aqui, vivas e precisam de mim. Me fez enxergar porque é tão ridícula a ideia de querer me matar, enquanto as pessoas que ficam aqui, as que se importam, sofrem pela perda.
Eu pensei em diversas coisas.
Agora eu tenho um anjinho da guarda tempo integral comigo. Eu posso fazer todas as coisas que me deixam feliz, tirar tudo que me inibe, ignorar tudo que as pessoas falam para barrar minha liberdade. Eu posso cantar e se quiser eu posso cantar mais alto, posso gravar. Posso ficar mais próxima das pessoas que eu amo sem medo de dar aqueles abraços demorados de horas porque eu nunca sei o tempo que eu estarei com elas e todo o tempo do mundo é especial. Eu posso sair com a minha avó, levá-la para conhecer os parques da cidade ao invés de passar todo o tempo em casa. Eu posso viajar mais com os meus pais e apreciar as pequenas coisas que fazemos. Eu posso me desfazer de todas as coisas antigas e refazer meu quarto de novo. Eu posso voltar na Ilha e pegar quantas águas-vivas eu quiser na mão para fazer carinho. Eu posso fazer gentilezas a um estranho, surpresas a um conhecido, homenagens a alguém essencial.
Se nada podia me parar antes, não é agora que eu compreendo meu conceito de mortalidade que algo vai me barrar.
Minha sugestão para todos é se desprender dessa mentira social de prisão. Admirar e viver cada momento com cada pessoa de uma maneira especial, mesmo que sejam momentos breves: que eles sejam momentos marcantes e você esteja realmente ali.
Se tem uma coisa que se aprende com a morte, infelizmente, é apreciar a vida.
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Desculpa interromper, mas VOCÊS JÁ VIRAM ISSO?
Eu conheci o Daniel através de uma grande amiga e psicóloga, Debora. Descobri que ele fazia camisetas sobre doenças psicológicas. Quando entrei em contato com ele, contei a minha história, uma parte da minha batalha diária e ele conversou comigo, me passou palavras de calma. Daniel foi extremamente atencioso, muito compreensivo e bastante comunicativo. Ele se interessou pela minha história. E então ele compartilhou a dele.
Para quem não conhece, esse homem se chama Daniel Velloso, 31 anos e um grande vencedor na vida. Meu primeiro contato com a história dele foi através desses trechos:
"Olá, meu nome é Daniel Velloso e sou esquizofrênico.
Bem, eu e o Guti adquirimos nossas camisetas e entramos nessa luta juntos.
Para quem não conhece, esse homem se chama Daniel Velloso, 31 anos e um grande vencedor na vida. Meu primeiro contato com a história dele foi através desses trechos:
"Olá, meu nome é Daniel Velloso e sou esquizofrênico.
Lembro bem do meu primeiro surto dentro de um shopping center perto da minha casa. Sensação que eu não quero que se repita e que não desejo a ninguém. Vozes, uma barulho na minha cabeça, tonteira, vista turva e fui carregado até em casa pelos bombeiros.
(...)
Muitas coisas aconteceram dentre os dezoito aos trinta e um anos que me encontro agora, eu pretendo escrever a minha biografia. Mas o mais importante disso tudo é que eu venci. Hoje estudo psicologia e sabem aonde? Naquele lugar, naquele shopping onde eu passei mal pela primeira vez.
(...)
Viver pra mim está em primeiro lugar, ser alguém que sirva de exemplo de superação e que as pessoas podem ter esperanças. E agora fazendo faculdade, quero curar muita gente."
(Leia o texto completo aqui: http://www.fasdapsicanalise.com.br/desafiando-medicina-com-esquizofrenia/ )
Depois de muita conversa, descobri que Daniel é um escritor com três livros publicados e diversos projetos. Assisti a entrevista dele no programa da Fátima Bernardes (link no fim do texto) e fiquei encantada. "Como assim ele consegue dar a cara a tapa dessa forma? Se expôr dessa forma. Bem... É basicamente o que eu faço. Só que sem o programa da Fátima Bernardes". É incrível conhecer pessoas que passaram por problemas graves e agora estão dispostas a ajudar os outros porque reconheceram equilíbrio em si mesmas.Bem, eu e o Guti adquirimos nossas camisetas e entramos nessa luta juntos.
Para quem quiser acompanhar o trabalho do Daniel Velloso, sigam a página dele no Facebook:
https://www.facebook.com/danvelloso/?fref=ts&__mref=message_bubble
E para os interessados na camiseta, ela está sendo vendida no Espaço Psi, que fica na Rua Conde de Bonfim número 310 (dentro de uma galeria, na cobertura), Tijuca. Procurem pela Eunice lá, ela é um amor de pessoa, incrível em todos os sentidos! (Eu nunca tinha ido no Espaço Psi e na primeira vez que fui todo mundo me conhecia???????)
PLUS! A ideia das camisas foi, de acordo com Daniel, "uma espécia de grito, pois a depressão é uma doença silenciosa". Daniel visita pessoas com transtornos psicológicos para ouvir suas histórias e dar apoio (ele também é palestrante). O dinheiro arrecadado com as camisetas é revertido para apoio a pessoas com depressão e outras patologias.
E EM MARÇO TEM GRUPO DE APOIO LÁ NO ESPAÇO PSI, GENTE, VAMOS!
Espero que vocês tenham gostado e apoiem a causa. DEPRESSÃO NÃO É FRESCURA NÃO!
Link da entrevista com Fátima Bernardes; https://www.youtube.com/watch?v=heK0GH6iL6w&t=146s
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
Desculpa interromper, mas vamos falar sobre porque você não pode condenar alguém com depressão.
"Ele não sai daquele quarto"
"Ela fica chorando pelos cantos"
"Você realmente precisa se auto-mutilar?"
"Ela nunca tá feliz, coitadinha"
"O que falta na sua vida? Você tem tudo. Qual o motivo pra estar assim?"
"Você já tentou não ter depressão?"
Vocês já escutaram alguma dessas frases? Pois eu já. Inúmeras vezes. Acho que de todas, as que mais me incomodam são as duas últimas. Vou explicar por que.
A depressão parte de um quadro de alterações químicas no cérebro (bem como a maior parte das doenças psicológicas), ou seja, os neurotransmissores ficam loucos na produção de hormônios importantes como, por exemplo, a serotonina, a adrenalina, a dopamina e mais alguns que não me recordo. O foco é: sim, é uma alteração química no cérebro e não, não é fingimento.
Eu odeio entrar em depressão.
Muitas coisas passam pela minha cabeça. Há umas semanas atrás eu entrei em depressão. Eu perco o prazer de fazer todas as coisas que eu gosto (jogar, ler, escrever, escutar música), comer vira impossível e eu sempre uso a desculpa de que estou mal do estômago para ficar mais tempo na cama. Cancelo todos os meus compromissos (em piores casos, esqueço de cancelar e simplesmente não apareço). Não tenho coragem de olhar no espelho porque o que eu vejo é a coisa mais feia que já vi na minha vida. Começo a pensar em como meus amigos devem me odiar pelo que eu sou e que se eu fosse eles, já teria metido o pé, como consequência, acabo afastando a maioria pelo "bem deles". Já outros amigos eu tenho a certeza de que eles não se importam mais. Tenho crises de choro constante e corro para a cama da minha mãe, mas faço um puta esforço para não chorar. Me sinto inútil e solitária. Geralmente fico muito cansada e não consigo dormir e, se por acaso conseguir, é no máximo umas quatro ou cinco horas durante o dia porque passo a noite acordada olhando a parede. Posso ficar muito irritada por motivos pequenos, como alguém perguntar "Como você está?" NÃO É ÓBVIO QUE EU ESTOU MAL? Me sinto culpada por meus pais pagarem meu tratamento e eu cair tão baixo. Fico insegura de reprovar na faculdade e ser um peso para a minha família, perder um semestre. Uso as minhas piores roupas, esqueço que tenho maquiagem, posso passar dias sem tomar banho (sim, é nojento, eu reconheço). Não quero ficar em casa, no quarto, mas também não quero sair na rua e encarar as pessoas. Às vezes, encho a cara para passar o tempo ou me fazer dormir.
Tudo isso junto começa a despertar em mim um sentimento de culpa e inutilidade muito grande. Mas muito grande mesmo. Essa é a parte onde eu apelo para auto-mutilação, humilhação e tentativas de suicídio. Tudo que eu sempre escutei, de como eu sou uma guerreira e consigo vencer isso, como eu consigo me erguer e ajudar as pessoas, me faz sentir uma impostora, uma mentirosa. Não, eu não consigo me erguer agora. Parece que todo mundo próximo me cerca para ajudar, tentando arrancar de mim esse mal e esperando que eu dê um sorriso e fique bem num estalar de dedos. Isso não acontece. Sinto que desapontei a todos. Pioro.
Me irrito fácil quando mencionam que eu preciso de religião na minha vida, como se apenas a religião fosse retirar de mim todas as coisas entaladas e dolorosas. A angústia interna é tão grande que eu não me importo de me machucar.
Mas não da última vez.
Estava com muita muita muita raiva e precisava jogar isso pra fora, mas a única coisa que eu joguei longe foi a gilete. Alguma parte do meu corpo gritou "Não!" e eu joguei o troço longe. Continuei com os pensamentos ruins, sim, mas me esforcei ao máximo para que ficassem no pensamento, bem longe da realidade. A pior parte é que quando se tem um problema, é fácil pegar e resolver. Agora, quando você não tem ideia de qual é o problema e só precisa esperar passar, é muito difícil. Por isso odeio quando perguntam se aconteceu algo. Aconteceu. Estou deprimida. Por quê? Porque estou, você quer que eu desenhe meus neurotransmissores em crise para você? E poxa, sim, eu já pensei em tentar não ter depressão. A forma mais fácil é esfaquear meu cérebro ou mandá-lo para um adestramento biológico. Você pode me ajudar com isso?
São as perguntas mais estúpidas que alguém pode fazer.
Porém, eu me recuso a me render a essa merda. Ao primeiro indício de depressão, eu alerto as pessoas mais próximas de mim e marco saídas com elas, qualquer coisa que me tire de casa e me distraia, mesmo que eu saia daqui para chorar no colo da pessoa. O importante é sair. Querer sair, no caso. Eu tento ao máximo bloquear os pensamentos inconvenientes, porque a depressão é uma mentirosa. Sim, a depressão é uma grande mentirosa. Ela te faz acreditar em coisas que não são reais. Então, não acreditem nela. É tudo uma grande mentira para fazer você se sentir péssimo.
Eu sei que dói e que o esforço é imenso, mas peça ajuda. É o que eu faço. Me sinto fraca e inútil pedindo ajuda, mas sei que é a única forma de sair ilesa da situação. É a única forma de me cuidar para poder cuidar das pessoas que eu amo. Pense por um segundo em algo que você ama muito: pessoa, animal, objeto. Se agarre nisso e lute contra.
Se você está lendo isso e não sofre de depressão, não condene quem sofre. Não pense que essa pessoa é mais fraca, quando na verdade, ela é mais forte que você. Lembre-se que fazer piadas ou menosprezar os sentimentos da pessoa podem levar ao suicídio. Deixe-se disponível para que a pessoa te procure e desabe. Demonstre confiança e força.
Se você não sente na pele, não desmereça.
Somos mais fortes que um exército inteiro.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
Desculpa interromper, mas ei!, você namora uma borderline, Ted Mosby!
Aqui, no meu quarto, ainda é dia. Mais precisamente, horário pré-almoço. Tem alguns dias que eu não como direito por estar entrando em período depressivo, mas nunca me senti com tanto gás para lutar contra ele. Uma das razões dessa dedicação é que o período letivo da faculdade vai voltar e por mais que eu queira chorar, me encolher e fugir, ao mesmo tempo eu quero me arrumar, ir até lá e aprender algo útil. Outra razão são meus amigos. Nossa, eles estão afiados, merecem até a famosa frase "dar nome aos bois". William, Deborah, Sinclair, Ian, Eduardo, Yasmin, Laryssa e Brenno merecem um troféu. Mas não posso deixar de fora uma pessoa muito importante que está do meu lado tem bastante tempo.
Resolvi entrevistar o Luiz Gustavo (21 anos) porque recebi perguntas anônimas e não-anônimas (sim) sobre como ele aguentava ter um relacionamento comigo visto que... bom... problemas psicológicos, cuco da cabeça, etc. Acho que essas pessoas, hã, não leram o primeiro post do blog onde eu dei ênfase no SOMOS NORMAIS.
(Quero dizer, somos o mais normal que podemos ser. É verdade que desde que começamos a namorar eu troquei de cor de cabelo 4 vezes. E também é verdade que nós comemoramos o dia dos namorados no Parque da Barra em que eu usava uma peruca comprida rosa choque. Ok, eu admito. É estranho o fato de eu tacar alho nele periodicamente para checar se ele não virou um vampiro. Ou então quando ele começa a inventar palavras e eu fico corrigindo porque porra NÃO EXISTE UMA SALGADARIA. Tem também as ocasiões em que eu falo muito alto de noite ou grito coisas como "Churrasco de carne humana, galera!" e ele me cutuca com sono mandando eu calar a boca. Também não gosto de pausar conversas para ir no banheiro, então eu sempre peço que ele venha comigo e fique do lado de fora da porta conversando. Como eu disse, o mais normal que podemos ser.)
Vamos pular para a entrevista e ver o que Luiz Gustavo tem a dizer sobre isso (ele me pediu para dizer que é meu futuro marido).
Eu: O termo "border". Antes de me namorar, você já tinha ouvido falar sobre isso? Já tinha conhecido alguém com o quadro?
LG: Não que eu saiba. Talvez. Pode ser, mas para mim eram pessoas normais.
Eu: Você sabe que o borderline é algo bem específico. No caso, eu sou, mas nem todo mundo é. As pessoas podem ler meu blog e pensar que os sintomas batem e se auto-diagnosticarem, o que é um problema.
LG: Aham. Como você já fez muitas vezes.
Eu: É, mas eu sou realmente diagnosticada.
LG: Mas antes você ficava pesquisando sobre doenças psicológicas... E você tentou me diagnosticar!
Eu: É... Ok... Desculpa por isso.
(Rimos)
Eu: Saindo de termos específicos, eu estava um dia desses olhando um tópico no Facebook e o que eu mais reparei eram pessoas (nem sempre diagnosticadas) comentando que sofrem de ansiedade e depressão. Então, vamos começar com um "Pra você, o que é ansiedade"?
LG: Eu sou muito ignorante, Vee...
Eu: Não tem problema, me passa o seu ponto de vista.
LG: Ansiedade é você esperar muito por uma coisa. Por exemplo, o meu primeiro dia do meu primeiro emprego, eu passei a noite em claro revirando na cama, ansioso sem saber porque eu estava ansioso, entendeu? Isso para mim é ansiedade, na minha ignorância.
Eu: Ok, então, como resposta para você, vou te dizer que a ansiedade vai muito mais além do que isso. A pessoa que tem ansiedade pode precisar de medicação em alguns casos. A ansiedade pode fazer você não comer, não dormir, pensar 24h em um assunto, você relembra coisas que aconteceram há muito tempo atrás, você não consegue andar... O seu corpo cria um mecanismo de auto-destruição porque ele fica completamente ansioso e você parece que está paranoico. Ou seja, vai muito além de "Ah, um amigo vem me visitar, estou ansioso". Não. Ok? E depressão? Como você vê isso?
LG: Até um tempo atrás, achava que era uma das piores doenças psicológicas que se podia ter. (Ele começou a compartilhar comigo algumas experiências sobre contato com pessoas com depressão. Não achei correto publicar.) Entrei em contato com pessoas deprimidas com 15 ou 16 anos. Me assustava o fato de alguns quererem tirar a própria vida. Parecia extremo. Era mais do que ficar na cama o dia inteiro.
Eu: Então você já aprendeu "cedo" que algumas características da depressão são: perder a vontade de coisas que você gostava, evitar sair com amigos ou qualquer outra saída, chorar sem motivos, sentir um vazio absurdo e uma angústia, se isolar. Se eu pudesse caracterizar depressão numa frase, eu diria "O mundo não precisa de mim aqui, não vai fazer falta". Mas não é real.
LG: Não é. Mas quantos casos você vê por aí notificando de gente que tirou a própria vida?
Eu: Aí é o ponto. Você não vê. A mídia não publica isso, nem dá foco para isso, mesmo sendo muito importante. Certo, você chega em casa e encontra uma pessoa sofrendo uma crise de ansiedade. Qual sua reação?
LG: Devo me espelhar em você?
Eu: Tanto faz.
LG: Eu ia tentar distrair a pessoa (você) e procurar os pais urgente ou o terapeuta da pessoa. O mesmo seria para alguém deprimido. Eu sou muito disposto a dar apoio emocional também. Se você quiser conversar, eu sempre vou estar disposto a ouvir.
Eu: Vamos canalizar algo que você falou que eu achei interessante. Em ambas as situações, sua reação seria chamar os pais ou um responsável, até mesmo um terapeuta, certo?
LG: Sim. As pessoas mais velhas, que tem experiência na área psicológica podem ajudar melhor. E o pai ou a mãe tem força para lidar com a situação. A maioria das pessoas não sabe como agir, Vee. Às vezes é melhor ficar calado se não souber como ajudar.
Eu: E se você realmente quiser ajudar a pessoa? Pode se espelhar em nós.
LG: Eu já tentei inúmeras vezes te ajudar. Eu tentava te distrair e você estava mal, então simplesmente se irritava comigo por eu ficar fazendo perguntas e não entender o que você sentia. Eu tentava a tática do "Eu não entendi, me explica" e você respondia "Vamos parar aqui, fica calado". O meu plano sempre foi falar "Qualquer coisa eu estou aqui" e eu realmente estava lá. Eu também sofro com os estilhaços que você solta durante a conversa, você também sabe me atingir. (desculpa!)
Eu: No caso, você disse que estaria do meu lado e está firme e forte. O que acontece, porém quando a pessoa tem algum amigo que diz a ele "Pode contar comigo sempre" e simplesmente não tem tempo ou some? Ou até não tem um psicológico firme para aguentar o psicológico da pessoa com problemas?
LG: Então por que a pessoa falaria em primeiro lugar? Não faz sentido ela entrar, como diz a sua metáfora, no "mar de merda" se ela não estiver disposta a tomar ondas.
Eu: Eu te amo. Ok, agora vai a bomba. Me perguntaram como você me aguenta durante todo esse tempo de namoro, praticamente todos os dias e todas as noites. Então, dê aos curiosos sua resposta. Espaço aberto para você.
LG: Eu só te amo, sou apaixonado por você. Vai além do amor, eu me sinto responsável por você um pouco. Mas eu não "aguento", isso não é um sacrifício. É um dever, mas também um privilégio porque você é minha namorada e eu escolhi passar minha vida com você. Se você gosta de uma pessoa, olha só... Essa é uma dica para todos aí...
Eu: (Rindo alto. Momento Gustavo Guru do Amor.)
LG: Você conhece a pessoa. As coisas crescem, se esse amor for mútuo e tudo der certo, significa que você tá gostando dessa pessoa e quer seguir mais em frente. Eu tenho a cabeça de que só vou namorar alguém quando for para casar. Não quero conhecer alguém para ter data de validade.
Eu: Isso é meio Ted Mosby...
LG: Mas é! Cara! Tipo, porra... Pra que eu vou começar a namorar se eu já sinto que vai acabar?
(Ele começou a viajar então CORTA!)
Eu: Então, seguindo a linha de How I Met Your Mother, a gente sabe que tem o momento Oh! do relacionamento que é quando você descobre algo sobre a pessoa... Lembra? A teoria do Barney. Teve um momento Oh! comigo?
LG: Não, eu sempre soube do seu Oh!. Só não sabia se era um Oh! ou um WOW! E é intenso, só pra deixar claro.
(Rimos muito.)
Eu: Sou muito difícil de lidar?
LG: Sim.
Eu: Tá. Ok... Eu já tive crise na sua frente.
LG: Quando você tentou destruir minha casa porque te chamaram de louca? Eu achei que era mais uma parte de você sendo raivosa e não uma crise.
Eu: Não, era a minha parte inconsciente dizendo "Ok, se me acham louca então eu realmente vou mostrar que eu sou louca".
LG: Sim e então eu comecei a quebrar as coisas junto com você até pararmos. Você não ficava de boas.
Eu: Como eu ia ficar de boas no meio de uma crise?
LG: Ah, quando eu comecei a porrar o armário você ficou bem de boas rapidinho.
Eu: Claro! Você me assustou. Eu nunca vi ninguém ser mais agressivo que eu, fui pega desprevenida. Mas foi uma lição. Só da próxima não comece a esmurrar as coisas ao redor.
LG: Eu raramente faço isso.
Eu: Namoramos a bastante tempo e você me vê como uma pessoa normal? Extrovertida, engraçada...
LG: Sim.
Eu: Você sabe qual o propósito desse blog?
LG: Um pouco.
Eu: Eu quero que as pessoas se sintam abraçadas aqui. Que vejam que não estão sozinhas e não devem ter vergonha do que elas tem. O que me preocupa são as pessoas se auto-diagnosticarem pelo Google ou que elas leiam aqui e pensem "Nossa, eu tenho todos esses sintomas, preciso procurar ajuda". Quando eu fui na psicóloga na primeira vez, eu não sabia o que eu tinha. Eu achava que era depressão, mas o que eu disse para ela foi "Eu acho que tem alguma coisa errada comigo".
LG: Melhor prevenir do que remediar?
Eu: Sim. Voltando ao assunto, então você me acha legal?
LG: É. Eu te acho bacana.
Eu: Seu escroto. (Ele ainda não superou o fato de eu ter dito que uma característica dele era ser bacana) Enfim, pro futuro pensamos em construir a nossa família, casar etc. Você tem medo que eu passe a doença geneticamente pros nossos filhos?
LG: Não.
Eu: E se eu passar?
LG: Passou.
Eu: Como você acha que vai ser a criação deles?
LG: Privilegiada e da forma que eles merecem, a melhor. Eu não tenho medo, se acontecer aconteceu.
Eu: Ai, meu Deus! O gravador gravou meu peido. (Pausa porque morremos de rir). Seriedade agora. Como você se sente quando vê que eu me auto-mutilei?
LG: Eu me sinto responsável porque penso que se estivesse junto com você no momento, você não teria feito.
Eu: E se eu me sentir mal por você se sentir responsável?
LG: Aí você faz isso? Mas você segurou por muito tempo. Dá para segurar. Você é forte.
(Pausa porque eu sou uma péssima repórter e desmoronei durante a entrevista.)
LG: Você se importa muito com pessoas que não se importam com você ou nem falam com você. Tenta se importar com quem fala com você. Aquele menino, André do Twitter. A sua ex, a flor. Os seus amigos que eu conheço, Nathan, William, Deborah, Eduardo, entre outros. Essas pessoas entram em contato com você sempre, elas se preocupam.
(Perdi o rumo da entrevista e de mim mesma. Desculpa. Luiz Gustavo passou 32 minutos e 17 segundos tentando me reconfortar, mas não tem sentido colocar isso aqui.)
LG: Você quer voltar para a entrevista?
Eu: Sim. Como é ter uma rotina comigo?
LG: A rotina com você é bem frequente. A gente se dá muito bem mesmo. Quando estamos longe (o que é uma ironia porque moramos a 4 minutos de distância), a gente não tem o mesmo tipo de tratamento um com o outro. Eu às vezes demoro a responder as mensagens e você fica mais fria e irritada. Resumindo a rotina é ótima com você, eu te amo muito, mas com certeza assim como outros casais (eu acho) temos que trabalhar em certos pontos no nosso relacionamento. Apesar do fato de que já superamos muitos obstáculos. Só tem umas coisas estranhas, mas é porque você é estranha mesmo, tipo lamber minha cara. Ou jogar alho em mim.
Eu: Acho que já deu para passar uma mensagem boa, não?
LG: Sim. Todos que tem qualquer tipo de transtorno psicológico, do menor ao maior, são fortes. Na verdade, são mais fortes que todo mundo por ainda estarem aqui. Desistir é a coisa mais fácil que tem, continuar que é muito difícil.
Obrigada, Guti, pela sinceridade nas respostas. Desculpa por cortar tanta coisa que você disse, mas você divaga muitos nos assuntos. E obrigada por responder aos que perguntaram como é namorar comigo e como me "aturar". Como podem ver, mais fácil que roubar doce de criança. Não que vocês devam fazer isso para testar, só avisando.
Resolvi entrevistar o Luiz Gustavo (21 anos) porque recebi perguntas anônimas e não-anônimas (sim) sobre como ele aguentava ter um relacionamento comigo visto que... bom... problemas psicológicos, cuco da cabeça, etc. Acho que essas pessoas, hã, não leram o primeiro post do blog onde eu dei ênfase no SOMOS NORMAIS.
(Quero dizer, somos o mais normal que podemos ser. É verdade que desde que começamos a namorar eu troquei de cor de cabelo 4 vezes. E também é verdade que nós comemoramos o dia dos namorados no Parque da Barra em que eu usava uma peruca comprida rosa choque. Ok, eu admito. É estranho o fato de eu tacar alho nele periodicamente para checar se ele não virou um vampiro. Ou então quando ele começa a inventar palavras e eu fico corrigindo porque porra NÃO EXISTE UMA SALGADARIA. Tem também as ocasiões em que eu falo muito alto de noite ou grito coisas como "Churrasco de carne humana, galera!" e ele me cutuca com sono mandando eu calar a boca. Também não gosto de pausar conversas para ir no banheiro, então eu sempre peço que ele venha comigo e fique do lado de fora da porta conversando. Como eu disse, o mais normal que podemos ser.)
Vamos pular para a entrevista e ver o que Luiz Gustavo tem a dizer sobre isso (ele me pediu para dizer que é meu futuro marido).
Eu: O termo "border". Antes de me namorar, você já tinha ouvido falar sobre isso? Já tinha conhecido alguém com o quadro?
LG: Não que eu saiba. Talvez. Pode ser, mas para mim eram pessoas normais.
Eu: Você sabe que o borderline é algo bem específico. No caso, eu sou, mas nem todo mundo é. As pessoas podem ler meu blog e pensar que os sintomas batem e se auto-diagnosticarem, o que é um problema.
LG: Aham. Como você já fez muitas vezes.
Eu: É, mas eu sou realmente diagnosticada.
LG: Mas antes você ficava pesquisando sobre doenças psicológicas... E você tentou me diagnosticar!
Eu: É... Ok... Desculpa por isso.
(Rimos)
Eu: Saindo de termos específicos, eu estava um dia desses olhando um tópico no Facebook e o que eu mais reparei eram pessoas (nem sempre diagnosticadas) comentando que sofrem de ansiedade e depressão. Então, vamos começar com um "Pra você, o que é ansiedade"?
LG: Eu sou muito ignorante, Vee...
Eu: Não tem problema, me passa o seu ponto de vista.
LG: Ansiedade é você esperar muito por uma coisa. Por exemplo, o meu primeiro dia do meu primeiro emprego, eu passei a noite em claro revirando na cama, ansioso sem saber porque eu estava ansioso, entendeu? Isso para mim é ansiedade, na minha ignorância.
Eu: Ok, então, como resposta para você, vou te dizer que a ansiedade vai muito mais além do que isso. A pessoa que tem ansiedade pode precisar de medicação em alguns casos. A ansiedade pode fazer você não comer, não dormir, pensar 24h em um assunto, você relembra coisas que aconteceram há muito tempo atrás, você não consegue andar... O seu corpo cria um mecanismo de auto-destruição porque ele fica completamente ansioso e você parece que está paranoico. Ou seja, vai muito além de "Ah, um amigo vem me visitar, estou ansioso". Não. Ok? E depressão? Como você vê isso?
LG: Até um tempo atrás, achava que era uma das piores doenças psicológicas que se podia ter. (Ele começou a compartilhar comigo algumas experiências sobre contato com pessoas com depressão. Não achei correto publicar.) Entrei em contato com pessoas deprimidas com 15 ou 16 anos. Me assustava o fato de alguns quererem tirar a própria vida. Parecia extremo. Era mais do que ficar na cama o dia inteiro.
Eu: Então você já aprendeu "cedo" que algumas características da depressão são: perder a vontade de coisas que você gostava, evitar sair com amigos ou qualquer outra saída, chorar sem motivos, sentir um vazio absurdo e uma angústia, se isolar. Se eu pudesse caracterizar depressão numa frase, eu diria "O mundo não precisa de mim aqui, não vai fazer falta". Mas não é real.
LG: Não é. Mas quantos casos você vê por aí notificando de gente que tirou a própria vida?
Eu: Aí é o ponto. Você não vê. A mídia não publica isso, nem dá foco para isso, mesmo sendo muito importante. Certo, você chega em casa e encontra uma pessoa sofrendo uma crise de ansiedade. Qual sua reação?
LG: Devo me espelhar em você?
Eu: Tanto faz.
LG: Eu ia tentar distrair a pessoa (você) e procurar os pais urgente ou o terapeuta da pessoa. O mesmo seria para alguém deprimido. Eu sou muito disposto a dar apoio emocional também. Se você quiser conversar, eu sempre vou estar disposto a ouvir.
Eu: Vamos canalizar algo que você falou que eu achei interessante. Em ambas as situações, sua reação seria chamar os pais ou um responsável, até mesmo um terapeuta, certo?
LG: Sim. As pessoas mais velhas, que tem experiência na área psicológica podem ajudar melhor. E o pai ou a mãe tem força para lidar com a situação. A maioria das pessoas não sabe como agir, Vee. Às vezes é melhor ficar calado se não souber como ajudar.
Eu: E se você realmente quiser ajudar a pessoa? Pode se espelhar em nós.
LG: Eu já tentei inúmeras vezes te ajudar. Eu tentava te distrair e você estava mal, então simplesmente se irritava comigo por eu ficar fazendo perguntas e não entender o que você sentia. Eu tentava a tática do "Eu não entendi, me explica" e você respondia "Vamos parar aqui, fica calado". O meu plano sempre foi falar "Qualquer coisa eu estou aqui" e eu realmente estava lá. Eu também sofro com os estilhaços que você solta durante a conversa, você também sabe me atingir. (desculpa!)
Eu: No caso, você disse que estaria do meu lado e está firme e forte. O que acontece, porém quando a pessoa tem algum amigo que diz a ele "Pode contar comigo sempre" e simplesmente não tem tempo ou some? Ou até não tem um psicológico firme para aguentar o psicológico da pessoa com problemas?
LG: Então por que a pessoa falaria em primeiro lugar? Não faz sentido ela entrar, como diz a sua metáfora, no "mar de merda" se ela não estiver disposta a tomar ondas.
Eu: Eu te amo. Ok, agora vai a bomba. Me perguntaram como você me aguenta durante todo esse tempo de namoro, praticamente todos os dias e todas as noites. Então, dê aos curiosos sua resposta. Espaço aberto para você.
LG: Eu só te amo, sou apaixonado por você. Vai além do amor, eu me sinto responsável por você um pouco. Mas eu não "aguento", isso não é um sacrifício. É um dever, mas também um privilégio porque você é minha namorada e eu escolhi passar minha vida com você. Se você gosta de uma pessoa, olha só... Essa é uma dica para todos aí...
Eu: (Rindo alto. Momento Gustavo Guru do Amor.)
LG: Você conhece a pessoa. As coisas crescem, se esse amor for mútuo e tudo der certo, significa que você tá gostando dessa pessoa e quer seguir mais em frente. Eu tenho a cabeça de que só vou namorar alguém quando for para casar. Não quero conhecer alguém para ter data de validade.
Eu: Isso é meio Ted Mosby...
LG: Mas é! Cara! Tipo, porra... Pra que eu vou começar a namorar se eu já sinto que vai acabar?
(Ele começou a viajar então CORTA!)
Eu: Então, seguindo a linha de How I Met Your Mother, a gente sabe que tem o momento Oh! do relacionamento que é quando você descobre algo sobre a pessoa... Lembra? A teoria do Barney. Teve um momento Oh! comigo?
LG: Não, eu sempre soube do seu Oh!. Só não sabia se era um Oh! ou um WOW! E é intenso, só pra deixar claro.
(Rimos muito.)
Eu: Sou muito difícil de lidar?
LG: Sim.
Eu: Tá. Ok... Eu já tive crise na sua frente.
LG: Quando você tentou destruir minha casa porque te chamaram de louca? Eu achei que era mais uma parte de você sendo raivosa e não uma crise.
Eu: Não, era a minha parte inconsciente dizendo "Ok, se me acham louca então eu realmente vou mostrar que eu sou louca".
LG: Sim e então eu comecei a quebrar as coisas junto com você até pararmos. Você não ficava de boas.
Eu: Como eu ia ficar de boas no meio de uma crise?
LG: Ah, quando eu comecei a porrar o armário você ficou bem de boas rapidinho.
Eu: Claro! Você me assustou. Eu nunca vi ninguém ser mais agressivo que eu, fui pega desprevenida. Mas foi uma lição. Só da próxima não comece a esmurrar as coisas ao redor.
LG: Eu raramente faço isso.
Eu: Namoramos a bastante tempo e você me vê como uma pessoa normal? Extrovertida, engraçada...
LG: Sim.
Eu: Você sabe qual o propósito desse blog?
LG: Um pouco.
Eu: Eu quero que as pessoas se sintam abraçadas aqui. Que vejam que não estão sozinhas e não devem ter vergonha do que elas tem. O que me preocupa são as pessoas se auto-diagnosticarem pelo Google ou que elas leiam aqui e pensem "Nossa, eu tenho todos esses sintomas, preciso procurar ajuda". Quando eu fui na psicóloga na primeira vez, eu não sabia o que eu tinha. Eu achava que era depressão, mas o que eu disse para ela foi "Eu acho que tem alguma coisa errada comigo".
LG: Melhor prevenir do que remediar?
Eu: Sim. Voltando ao assunto, então você me acha legal?
LG: É. Eu te acho bacana.
Eu: Seu escroto. (Ele ainda não superou o fato de eu ter dito que uma característica dele era ser bacana) Enfim, pro futuro pensamos em construir a nossa família, casar etc. Você tem medo que eu passe a doença geneticamente pros nossos filhos?
LG: Não.
Eu: E se eu passar?
LG: Passou.
Eu: Como você acha que vai ser a criação deles?
LG: Privilegiada e da forma que eles merecem, a melhor. Eu não tenho medo, se acontecer aconteceu.
Eu: Ai, meu Deus! O gravador gravou meu peido. (Pausa porque morremos de rir). Seriedade agora. Como você se sente quando vê que eu me auto-mutilei?
LG: Eu me sinto responsável porque penso que se estivesse junto com você no momento, você não teria feito.
Eu: E se eu me sentir mal por você se sentir responsável?
LG: Aí você faz isso? Mas você segurou por muito tempo. Dá para segurar. Você é forte.
(Pausa porque eu sou uma péssima repórter e desmoronei durante a entrevista.)
LG: Você se importa muito com pessoas que não se importam com você ou nem falam com você. Tenta se importar com quem fala com você. Aquele menino, André do Twitter. A sua ex, a flor. Os seus amigos que eu conheço, Nathan, William, Deborah, Eduardo, entre outros. Essas pessoas entram em contato com você sempre, elas se preocupam.
(Perdi o rumo da entrevista e de mim mesma. Desculpa. Luiz Gustavo passou 32 minutos e 17 segundos tentando me reconfortar, mas não tem sentido colocar isso aqui.)
LG: Você quer voltar para a entrevista?
Eu: Sim. Como é ter uma rotina comigo?
LG: A rotina com você é bem frequente. A gente se dá muito bem mesmo. Quando estamos longe (o que é uma ironia porque moramos a 4 minutos de distância), a gente não tem o mesmo tipo de tratamento um com o outro. Eu às vezes demoro a responder as mensagens e você fica mais fria e irritada. Resumindo a rotina é ótima com você, eu te amo muito, mas com certeza assim como outros casais (eu acho) temos que trabalhar em certos pontos no nosso relacionamento. Apesar do fato de que já superamos muitos obstáculos. Só tem umas coisas estranhas, mas é porque você é estranha mesmo, tipo lamber minha cara. Ou jogar alho em mim.
Eu: Acho que já deu para passar uma mensagem boa, não?
LG: Sim. Todos que tem qualquer tipo de transtorno psicológico, do menor ao maior, são fortes. Na verdade, são mais fortes que todo mundo por ainda estarem aqui. Desistir é a coisa mais fácil que tem, continuar que é muito difícil.
Obrigada, Guti, pela sinceridade nas respostas. Desculpa por cortar tanta coisa que você disse, mas você divaga muitos nos assuntos. E obrigada por responder aos que perguntaram como é namorar comigo e como me "aturar". Como podem ver, mais fácil que roubar doce de criança. Não que vocês devam fazer isso para testar, só avisando.
sábado, 28 de janeiro de 2017
Desculpa interromper, mas precisamos falar sobre ontem a noite (dia 3)
Não tem um jeito fácil de começar isso. A minha intenção com esse blog é ajudar as pessoas, para que elas leiam e não se sintam sozinhas ou não pensem que tudo está perdido. Minha intenção de ajudar, porém não muda o fato de que eu posso eventualmente vir a ter recaídas. Recaídas são normais. Eu não tinha uma há quase 9 meses ou mais, uma gestação de não-recaídas. Em menos de dois minutos eu estava sem nenhum controle sobre meu corpo ou minha cabeça. Eu poderia dizer que eu tive sorte ontem pelo meu namorado estar aqui em casa e não ter deixado nada pior acontecer, mas ao mesmo tempo isso me deixa puta triste porque ele viu cenas e um lado meu que raríssimas pessoas viram. E isso é triste. E eu sei que é impactante, foi impactante pra ele, mesmo que ele não admita.
Eu não queria reler o que eu disse ou para quem eu disse hoje pela manhã então larguei o celular em algum lugar aleatório. Pior que isso, eu vi quantas pessoas eu arrastei para essa situação. Pessoas que eu nem esperava que se preocupariam pois não tem o menor contato comigo há tempos estavam preocupadas, até desesperadas para ligar para os meus pais. Naquele momento, essa preocupação ou carinho não passou pela minha cabeça. Soa bastante egoísta, não? Eu sei.
Mas sim, eu acordei hoje como se um trator tivesse passado por cima de mim e morrendo de vergonha de olhar o Whatsapp e encontrar lá as pessoas que se importaram e que eu não dei valor. Lembro de ter mandado um "desculpa" para elas ontem e depois ter ficado acordada por algumas horas, enquanto meu namorado dormia segurando minha mão e pensando que eu era a porra de um furacão no meio da tempestade. Ao mesmo tempo, uma voz ficava repetindo "Fica calma, amanhã quando acordar vai ser um novo dia, você vai ser uma nova pessoa, vai ter tempo pra pensar no que aconteceu ontem. Vai seguir adiante, porque é isso que você faz."
Então, eu faço os meus mais sinceros pedidos de desculpas a quem eu deixei com o coração na garganta. Pessoas que estavam no Rio, pessoas que estavam em Tocantins, pessoas que eu não faço ideia de onde estavam e eu estava no meu quarto certa de uma decisão que machucaria todo mundo que eu conheço. Me desculpem por ter assustado vocês. Me desculpem por não ter conseguido segurar. Me desculpem por sair da minha fase de gestação de não-recaídas. Me desculpem se estraguei a noite de alguém. Não foi a Viviane consciente que fez isso, foi algo mais profundo dentro dela.
Mas mesmo a Viviane consciente conseguiu seu espaço ontem e deixou um recado para as pessoas, uma gravação. Ela conseguiu, antes de se deitar, tomar o lugar que era dela e falar algo.
"São 02h29 da manhã e eu acabei de passar por uma crise muito grande... e o meu namorado Gustavo estava aqui comigo e ele me ajudou. Mas o que eu passo para vocês... não é só a ajuda de uma pessoa nem a preocupação de dezenas de pessoas e nem a preocupação dos seus familiares, por mais importante que isso seja, por mais que isso valha a pena, o mais importante é você reconhecer que você tá no meio de uma crise. O mais importante é você se segurar quando você conseguir, deixar vir, chorar e tentar ao máximo não se machucar nem fazer merda e saber que você vai passar por isso... como eu tô agora, como eu passei agora e... e pesa numa balança se é válido você fazer alguma besteira por algum pequeno problema que você pode resolver depois e deixar várias pessoas que você gosta preocupadas, isso realmente não vale a pena. Então, desculpa para quem eu preocupei e... se você já passou por isso, ou se fez alguma coisa parecida, por favor na próxima, seja mais forte que isso porque eu tô sendo mais forte, eu tô sendo mais forte por você, pelos outros, então seja mais forte, por favor."
Me desculpem.
Eu não queria reler o que eu disse ou para quem eu disse hoje pela manhã então larguei o celular em algum lugar aleatório. Pior que isso, eu vi quantas pessoas eu arrastei para essa situação. Pessoas que eu nem esperava que se preocupariam pois não tem o menor contato comigo há tempos estavam preocupadas, até desesperadas para ligar para os meus pais. Naquele momento, essa preocupação ou carinho não passou pela minha cabeça. Soa bastante egoísta, não? Eu sei.
Mas sim, eu acordei hoje como se um trator tivesse passado por cima de mim e morrendo de vergonha de olhar o Whatsapp e encontrar lá as pessoas que se importaram e que eu não dei valor. Lembro de ter mandado um "desculpa" para elas ontem e depois ter ficado acordada por algumas horas, enquanto meu namorado dormia segurando minha mão e pensando que eu era a porra de um furacão no meio da tempestade. Ao mesmo tempo, uma voz ficava repetindo "Fica calma, amanhã quando acordar vai ser um novo dia, você vai ser uma nova pessoa, vai ter tempo pra pensar no que aconteceu ontem. Vai seguir adiante, porque é isso que você faz."
Então, eu faço os meus mais sinceros pedidos de desculpas a quem eu deixei com o coração na garganta. Pessoas que estavam no Rio, pessoas que estavam em Tocantins, pessoas que eu não faço ideia de onde estavam e eu estava no meu quarto certa de uma decisão que machucaria todo mundo que eu conheço. Me desculpem por ter assustado vocês. Me desculpem por não ter conseguido segurar. Me desculpem por sair da minha fase de gestação de não-recaídas. Me desculpem se estraguei a noite de alguém. Não foi a Viviane consciente que fez isso, foi algo mais profundo dentro dela.
Mas mesmo a Viviane consciente conseguiu seu espaço ontem e deixou um recado para as pessoas, uma gravação. Ela conseguiu, antes de se deitar, tomar o lugar que era dela e falar algo.
"São 02h29 da manhã e eu acabei de passar por uma crise muito grande... e o meu namorado Gustavo estava aqui comigo e ele me ajudou. Mas o que eu passo para vocês... não é só a ajuda de uma pessoa nem a preocupação de dezenas de pessoas e nem a preocupação dos seus familiares, por mais importante que isso seja, por mais que isso valha a pena, o mais importante é você reconhecer que você tá no meio de uma crise. O mais importante é você se segurar quando você conseguir, deixar vir, chorar e tentar ao máximo não se machucar nem fazer merda e saber que você vai passar por isso... como eu tô agora, como eu passei agora e... e pesa numa balança se é válido você fazer alguma besteira por algum pequeno problema que você pode resolver depois e deixar várias pessoas que você gosta preocupadas, isso realmente não vale a pena. Então, desculpa para quem eu preocupei e... se você já passou por isso, ou se fez alguma coisa parecida, por favor na próxima, seja mais forte que isso porque eu tô sendo mais forte, eu tô sendo mais forte por você, pelos outros, então seja mais forte, por favor."
Me desculpem.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Desculpa interromper, mas eu entrevistei minha mãe (dia 2)
Bom dia, ou qualquer bom pro horário que você estiver lendo isso. No começo dessa semana, aproveitei a tag #Mãeefilha (que geralmente é feita em vídeos) para fazer perguntas à minha mãe. Fomos bem sérias e focadas no fim da entrevista porque eu disse a ela que me ajudando com as perguntas, ela poderia estar ajudando outras pessoas, outras famílias. (Não choramos, porque estamos acostumadas a conversar sobre isso).
Bem, vocês vão entender conforme lerem.
Eu: Mãe, como eu era quando era criança? Você tem que ser sincera.
Mãe: Você era até engraçada, Viviane... porque você brincava com um monte de coisas, mas às vezes se irritava com alguma coisa. (Começou a rir)
Eu: Isso não fez o menor sentido...
Mãe: É que assim, você era de boas e de repente, você meio que se irritava com alguma coisa. Não era linear.
Eu: Tá, mas o que costumava me irritar?
Mãe: Ah, sei lá... Por exemplo, você era muito apegada a casa, as suas coisas, então pra viajar com você era um sufoco, você ia e já queria voltar.
Eu: E isso porque eu era uma criança engraçada?
Mãe: É, porque ao mesmo tempo você topava uma porção de coisas da sua irmã, porque com a diferença de dez anos, ela te fazia meio que de bonequinho e você topava as brincadeiras. Você tava sempre no meio do pessoal mais velho, você se enturmava bem. E obviamente eles faziam suas vontades, então você se sentia um pinto no lixo porque era o centro das atenções.
Eu: Ok, fala uma coisa engraçada que eu fiz quando era mais jovem.
Mãe: Uma coisa que eu achei muito engraçada que você fez foi aquela redação... Foi no colégio, você comparou o colégio com uma prisão e entregou pros professores. Aquilo ali eu guardei. Ah, e uma coisa que eu lembrei agora, você não era como sua irmã pra dormir, isso era uma característica interessante. Você era aquela coisa de criança mesmo, de dormir mais cedo, você capotava. Às vezes, a gente via você fazendo alguma coisa e no segundo seguinte você tava dormindo em cima das coisas. Parecia que sua pilha tinha acabado.
Eu: Ou seja, eu sempre fui a filha favorita...
Mãe: Isso é você que tá dizendo...
Eu: Não, beleza. Se você tivesse que mudar meu nome, qual seria?
Mãe: Serafina. (Caiu no riso)
Eu: Puta que pariu, mãe...
Mãe: Catarina?
Eu: Tá, chega. Quando eu saio pra comer, o que eu sempre peço? Algo que eu gosto muito de comer.
Mãe: Eu sei que você adora comida japonesa. Então acho que se puder te dar essa opção, você vai.
Eu: Eu vou.
Mãe: Mas você também vai bem na massa, né? Pizza...
Eu: Delícia. Tá, diga uma coisa que você gostaria que eu fizesse.
Mãe: Eu acho que você precisa desenvolver é foco. Porque você às vezes se entusiasma e perde o gás. Porque assim, a gente percebe que a tua energia está numa linha, mas você fica subindo e descendo. Se você conseguisse canalizar sua energia para ter um objetivo e chegar até o final, seria bom.
Eu: Ok, vamos lá. O que eu faço que mais te incomoda?
Mãe: Omitir. Pra não dizer mentir. Você peca pela omissão, isso me incomoda porque eu jogo limpo, jogo aberto.
Eu: Acho que vou tirar essa pergunta porque não está me favorecendo... Tá, diga uma coisa pela qual eu sou obcecada.
Mãe: Celular!
Eu: Não!
Mãe: Total! Se eu arrancar isso aqui de você, é a morte. Ué, tudo bem, então me dá o celular. Eu quero ver você ficar 24h sem ele. Pra mim isso é vício. Por que? Tem alguma outra coisa que você é viciada e eu não sei?
Eu: Lógico. Tatuagens...
Mãe: Tá, mas tatuagem não é vício. Você fez algumas, óbvio que você vai querer fazer outras, mas assim, não vejo isso como uma obsessão. Vejo isso como um gosto. "Gosto e faço".
Eu: Você gosta das minhas tatuagens?
Mãe: Todas não.
Eu: Qual você não gosta?
Mãe: Essa daí...
Eu: As pessoas não sabem de qual você está falando.
Mãe: Essa aí desse cavalo aí de Tróia. Esse bicho aí colorido... Não curti muito não.
Eu: É um unicórnio. Mas tá bom, mãe, valeu. Agora vamos para umas perguntas mais profundas, que é o tema do meu blog. Eu não posso incluir meu pai nisso porque a entrevista não é com ele e você não pode falar por "nós", tem que falar por você, tá? Como foi descobrir que eu tinha algum tipo de transtorno psicológico, sem saber qual era, só descobrir assim "Ela tem alguma coisa"?
Mãe: Eu acho que foi... impactante porque na verdade a gente meio que descobriu, no caso eu descobri, com você já entrando numa crise, porque por conta das suas omissões, a gente não teve tempo de se adaptar, a gente não teve tempo de acompanhar o início. Então quando a gente descobre, a gente descobre já no meio do furacão. Veio logo uma sequência de descobertas.
Eu: Como a maioria das pessoas ao meu redor, você também não sabia o que era border, né? Você veio a descobrir com a psicóloga e psiquiatra falando... e você nunca tinha visto uma crise minha antes. A primeira crise, ou a segunda - a que você lembrar -, foi muito ruim?
Mãe: Não. Acho que uma das últimas foi a pior.
Eu: Sei qual foi. Então, as primeiras foram só susto?
Mãe: É, porque você meio que ficava invocada, irritada, quebrava alguma coisa, se machucava, mas meio que ia caminhando, né... Acho que aquela última foi a pior.
Eu: E como mãe, pensando não só em mim, mas em todos os adolescentes que tem um transtorno psicológico. Essa questão da gente pensar em suicídio e às vezes até botar em prática, como fica isso para você?
Mãe: Muito ruim. Muito ruim porque eu acho que nenhuma mãe quer perder um filho. Então pensar que o filho quer acabar com a vida, isso é muito ruim... É lógico que conversando a gente entende que tem uma série de coisas que interferem, mas quando você pensa que a pessoa está pensando em/ou pratica mesmo (faz a tentativa) e as relações, o teu convívio não é capaz de parar isso só na intenção... O pensamento é como diz o ditado "A gente não tem domínio sobre o pensamento", então o pensamento ele vem e... e às vezes acaba te tomando de alguma forma e você meio que não consegue parar. Mas não quer dizer que você vá tentar. Aquilo passa pela sua cabeça, mas você não bota em prática. Mas quando chega no momento de botar em prática, então assim, você considerar aquilo ali e o teu dia a dia com a família, as tuas relações elas não conseguirem fazer parar, isso dá uma sensação de impotência, de incapacidade. A gente se sente desvalorizado. "Poxa, mas não tem importância esse amor que existe entre a gente? Aquilo ali foi mais importante? Aquela decepção consegue suplantar o amor que existe da família, esse cuidado?" Aí você fica assim "Caraca, como que uma coisa pode chegar e sair devastando tudo, como se essas coisas fossem todas mais frágeis que tudo..."
Eu: Certo, mas no meu caso, eu tenho muito apoio familiar (e dos meus amigos também), mas o familiar é perfeito. Mas e quem não tem? Quando os pais acham que é uma frescura ou uma fase?
Mãe: Mas aí, filha, não é só com essa doença. Nós temos uma população que carece de informação e essa população não é só o pessoal desprovido de educação ou acesso a escola. Tanto é que tem gente com preconceito. Tem gente com psoríase que perde o emprego porque aquilo ali prejudica a aparência, tem gente que pensa que aquilo é contagioso. E isso eu tô falando de psoríase, uma doença simples como vitiligo, a convulsão que muita gente não socorre porque pensa que aquela baba vai contaminar, vai passar doença. Entendeu? Então assim, as pessoas não conhecem as doenças no geral, falta informação. E aí essa coisa de dizer que é frescura, ainda mais uma doença que atinge a mente, o emocional, que não é uma coisa visível... Quer dizer, é visível no comportamento, mas você não vê como uma lesão, uma queimadura. Ainda por cima, é difícil separar no seu quadro, por exemplo, o quanto nisso daí é da doença e o quanto é da Viviane. A Viviane de 20 anos, imatura, em processo de amadurecimento... Eu acho que essa dificuldade dos pais está por aí, das pessoas entenderem o que é a doença, até onde você consegue avançar ou quando precisa recuar. Porque por exemplo, eu sou desse jeito muito franco, muito aberto, gosto das coisas claras para não termos problemas de entendimento e desgaste. E às vezes eu tenho que lidar com você segurando informação, omitindo, mas eu preciso respeitar o seu tempo, que às vezes não é o meu. Isso gera conflito? Gera. Mas eu tento apoiar o máximo que eu posso.
Eu: A gente não briga muito né?
Mãe: Não.
Eu: Como você se sente sabendo que você é um dos meus principais apoios? Que quando eu entro em crise, se você não está perto eu entro na crise tensa? Porque você sabe que quando eu estou mal, eu vou procurar você, eu fico te cercando. E se eu não tenho você por perto, eu fico desesperada, nervosa...
Mãe: Isso me preocupa, né? Porque primeiro que eu não sou eterna, segundo que nem sempre eu posso estar do seu lado. Não tenho como deixar de trabalhar. Até para ajudar no seu tratamento, seus estudos. Isso me preocupa pela responsabilidade financeira, por essa responsabilidade de virar porto seguro para você... porque caramba, eu não tô 24h por dia perto de você. Por isso eu fico preocupada, porque você precisa encontrar mecanismos para poder superar esses momentos de crise sem eu estar presente. Isso é um desafio para você.
Eu: Me sinto desafiada. Última coisa, você já ficou mal por me ver mal?
Mãe: Já. Inúmeras vezes. Inclusive naquela briga que você me colocou como responsável pela sua doença. Não estou negando que eu seja responsável, se tem caráter genético. Mas é igual a miopia. Eu sou míope. Sou filha de pais míopes. Você saiu com pouco grau de miopia e sua irmã com muito. Só se eu não tivesse filhos...
Eu: Tá de boas?
Mãe: Sim, por mim tá tranquilo. Mais alguma coisa?
Eu: Não, tá show. Obrigada, mãe.
Quero agradecer à minha mãe, Hélia, pelo tempo e franqueza nas respostas gravadas. Como eu disse para ela pouco antes da entrevista começar, eu prefiro falar sobre o assunto do que omitir e fingir que não existe. Quanto mais informação, melhor. Então agradeço de coração a participação da minha mãe para expôr um lado que nós não temos acesso sempre: o lado dos pais.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Desculpe interromper, mas vamos falar sobre Transtornos Psicológicos (dia 1).
Desculpe interromper seu dia, aposto que estava tendo um dia maravilhoso. Se você não ler isso até o final, prometo não ficar chateada. Aposto que você clicou aqui achando que encontraria algo formidável e agradável para ler, nesse caso, aperte X no canto direito superior da sua tela.
E não diga que eu não avisei.
Eu tenho um leve problema com psicólogos, no geral. Não que algum deles já tenha me feito mal ou me dopado à força (sim, eu já fui dopada à força e não foi por psicólogos, então a culpa não é deles!), é apenas uma questão pessoal. Eu tive/tenho uma psicóloga na vida e eu não poderia descrevê-la nem que fizesse uma lista absurda de adjetivos bons. Ela é como uma segunda mãe para mim. Posso concluir então que ela é uma clara exceção a regra. O meu problema é que a maioria dos psicólogos colocam os olhos em você, apontam e dizem "Você tem essa doença extremamente bizarra e vai precisar tomar esses sete remédios para se sentir bem. Ah! E continue aparecendo nas sessões de terapia até fazer 54 anos". (Se você não é esse tipo de profissional, saiba que eu admiro a sua existência do fundo do meu coração). Basicamente, eles decoraram livros e sintomas. Pessoas não funcionam assim.
Após muita conversa e especulações, eu tenho meu diagnóstico. Borderline. Por muito tempo eu tinha medo de dizer a palavra, como os personagens de Harry Potter nunca chamavam Voldemort pelo nome e sim de "Você-Sabe-Quem". Então, eu tinha "você-sabe-o-que". Alguns amigos próximos puderam observar de perto o desenrolar dos sintomas e não é a toa que poderiam se assustar (eu mesma me assustava). O ponto é: desistiram de mim? Não. Então vida que segue. Passado o período de aceitação "Ok, eu tenho isso, vamos lidar com isso", tudo ficou mais fácil.
O que me assustou mesmo foi quando eu percebi que boa parte das pessoas não sabe o que é ser border. Como eu sou péssima com explicações, procurei uma definição que achei leve e adequada na internet:
"Transtorno de personalidade limítrofe, caracterizado pelas mudanças súbitas de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos, como gastar dinheiro descontroladamente, por exemplo. Geralmente, as pessoas border têm momentos em que estão estáveis, que alternam com surtos psicóticos, manifestando comportamentos descontrolados. Esses sintomas começam a se manifestar na adolescência e se tornam mais frequentes no início da vida adulta."
"O transtorno é caracterizado por instabilidade emocional, impulsividade, manifestações inadequadas de raiva, baixa autoestima, tendência ao suicídio, insegurança, não aceitar críticas e regras, intolerância a frustrações e o medo pelo abandono. O portador do transtorno tende a ter seus relacionamentos sempre intensos, confusos e desorganizados. Mudam seus conceitos sobre as pessoas e seus sentimentos de forma muito rápida, tendo suas qualidades anteriores, atualmente desvalorizadas. Indivíduos com TPEIB podem ser incomodados por sentimentos de vazio crônicos, sentimentos de rejeição e abandono, não importando se isso é real/verídico ou fantasioso. Os primeiros sintomas tendem a aparecer durante a adolescência, persistindo geralmente por toda a vida. Como os sintomas tornam-se perceptíveis, a família costuma supor que a rebeldia, a impulsividade, o descontrole emocional, a instabilidade e a diferente percepção de valores são típicas da idade, não fazendo ideia de que estão diante de um distúrbio grave."
Não parece tão legal, certo? Foi o que eu pensei. Em torno do transtorno de personalidade (qualquer um) existe o preconceito das pessoas. É comum sermos atingidos com palavras como "louco", "maníaco", "difícil de lidar" e até mesmo insinuações como "essa pessoa vai te arrastar pro fundo do poço" ou "ela vai destruir sua cabeça também". Não, nós não queremos destruir sua cabeça nem a sua vida. Porque não somos loucos, nem maníacos e, sim, talvez um pouco difíceis de lidar. Somos pessoas como você. Também brincamos, rimos, choramos, saímos com os amigos. Nossas reações podem ser mais exageradas que a de pessoas tidas como "normais", mas e daí?
Por que as pessoas têm medo de falar sobre? Por que as pessoas podem falar sobre câncer e diabetes, mas não podem falar sobre transtornos mentais? São doenças.
Lutar contra qualquer doença não é algo a ser desmerecido.
Somos sobreviventes. Existe um mini inferno nas nossas cabeças e não é raro perdermos o controle de nossas emoções. Tem dias que queremos nos enrolar no edredom e não parar de encarar a parede. Tem dias que evitamos as pessoas e horas depois aparecemos pulando de alegria. Podemos pensar coisas horríveis como "preferia não ter nascido", "todos os meus amigos me odeiam", "minha família vai desistir de mim". Nosso próprio corpo, nossa mente se volta contra nós e programa coisas absurdas que somos forçados a acreditar. Deprimimos. E depressão não é se sentir triste. "Ah, perdi a reprise da novela, estou muito triste, estou deprimida." Não. Depressão dá vontade de não existir, não se mover, não comer. Uma palavrinha errada que escutamos e podemos cair em prantos ou sair batendo portas. Então, se você está lendo isso e sofre de algum transtorno psicológico, porra, olha para você! Você está aqui. Você está vivo. Você está lendo essa joça. Você sobreviveu a incontáveis dias de merda e ainda está aqui, então você tem a capacidade de lutar mais e continuar aqui. Sua cabeça tenta te menosprezar todos os dias e ainda assim, você continua aqui. Por que não estamos celebrando isso?
Para os que estão aqui e não sofrem de transtornos psicológicos, olhem ao redor. Um amigo de vocês pode estar precisando de ajuda. Não estou falando daquela ajuda fajuta de mandar uma mensagem "Pode contar comigo" e sumir. A ajuda necessária é estar presente, mostrar que aquela pessoa é especial e importante, que ela é uma vencedora. É checar como ela estar. Motivá-la a não desistir. (Mas de forma alguma entre nessa se você sente que a pessoa é "difícil de lidar". Você não vai ajudar, vai prejudicar pois vai acabar a abandonando quando ela sentir que pode contar com você.) Seja forte por você e pela pessoa que precisa da sua ajuda. Entenda que os rompantes de raiva que ela tem não são totalmente culpa dela. Na maioria dos casos, ela está se esforçando para agir naturalmente, mas quando não der, somos vulcões em erupção. Aguente a lava com amor.
Não tem problema algum admitir que tem um transtorno diagnosticado. Só não se entregue a ele e não justifique todos os seus atos com a desculpa de ter uma doença. Quer saber? Faz melhor. Luta contra. O transtorno pode estar dentro de você, misturado em você como uma poção venenosa, mas ele não é você. Então mostra para todo mundo que você é muito mais que uma doença, porque você é.
E não diga que eu não avisei.
Eu tenho um leve problema com psicólogos, no geral. Não que algum deles já tenha me feito mal ou me dopado à força (sim, eu já fui dopada à força e não foi por psicólogos, então a culpa não é deles!), é apenas uma questão pessoal. Eu tive/tenho uma psicóloga na vida e eu não poderia descrevê-la nem que fizesse uma lista absurda de adjetivos bons. Ela é como uma segunda mãe para mim. Posso concluir então que ela é uma clara exceção a regra. O meu problema é que a maioria dos psicólogos colocam os olhos em você, apontam e dizem "Você tem essa doença extremamente bizarra e vai precisar tomar esses sete remédios para se sentir bem. Ah! E continue aparecendo nas sessões de terapia até fazer 54 anos". (Se você não é esse tipo de profissional, saiba que eu admiro a sua existência do fundo do meu coração). Basicamente, eles decoraram livros e sintomas. Pessoas não funcionam assim.
Após muita conversa e especulações, eu tenho meu diagnóstico. Borderline. Por muito tempo eu tinha medo de dizer a palavra, como os personagens de Harry Potter nunca chamavam Voldemort pelo nome e sim de "Você-Sabe-Quem". Então, eu tinha "você-sabe-o-que". Alguns amigos próximos puderam observar de perto o desenrolar dos sintomas e não é a toa que poderiam se assustar (eu mesma me assustava). O ponto é: desistiram de mim? Não. Então vida que segue. Passado o período de aceitação "Ok, eu tenho isso, vamos lidar com isso", tudo ficou mais fácil.
O que me assustou mesmo foi quando eu percebi que boa parte das pessoas não sabe o que é ser border. Como eu sou péssima com explicações, procurei uma definição que achei leve e adequada na internet:
"Transtorno de personalidade limítrofe, caracterizado pelas mudanças súbitas de humor, medo de ser abandonado pelos amigos e comportamentos impulsivos, como gastar dinheiro descontroladamente, por exemplo. Geralmente, as pessoas border têm momentos em que estão estáveis, que alternam com surtos psicóticos, manifestando comportamentos descontrolados. Esses sintomas começam a se manifestar na adolescência e se tornam mais frequentes no início da vida adulta."
"O transtorno é caracterizado por instabilidade emocional, impulsividade, manifestações inadequadas de raiva, baixa autoestima, tendência ao suicídio, insegurança, não aceitar críticas e regras, intolerância a frustrações e o medo pelo abandono. O portador do transtorno tende a ter seus relacionamentos sempre intensos, confusos e desorganizados. Mudam seus conceitos sobre as pessoas e seus sentimentos de forma muito rápida, tendo suas qualidades anteriores, atualmente desvalorizadas. Indivíduos com TPEIB podem ser incomodados por sentimentos de vazio crônicos, sentimentos de rejeição e abandono, não importando se isso é real/verídico ou fantasioso. Os primeiros sintomas tendem a aparecer durante a adolescência, persistindo geralmente por toda a vida. Como os sintomas tornam-se perceptíveis, a família costuma supor que a rebeldia, a impulsividade, o descontrole emocional, a instabilidade e a diferente percepção de valores são típicas da idade, não fazendo ideia de que estão diante de um distúrbio grave."
Não parece tão legal, certo? Foi o que eu pensei. Em torno do transtorno de personalidade (qualquer um) existe o preconceito das pessoas. É comum sermos atingidos com palavras como "louco", "maníaco", "difícil de lidar" e até mesmo insinuações como "essa pessoa vai te arrastar pro fundo do poço" ou "ela vai destruir sua cabeça também". Não, nós não queremos destruir sua cabeça nem a sua vida. Porque não somos loucos, nem maníacos e, sim, talvez um pouco difíceis de lidar. Somos pessoas como você. Também brincamos, rimos, choramos, saímos com os amigos. Nossas reações podem ser mais exageradas que a de pessoas tidas como "normais", mas e daí?
Por que as pessoas têm medo de falar sobre? Por que as pessoas podem falar sobre câncer e diabetes, mas não podem falar sobre transtornos mentais? São doenças.
Lutar contra qualquer doença não é algo a ser desmerecido.
Somos sobreviventes. Existe um mini inferno nas nossas cabeças e não é raro perdermos o controle de nossas emoções. Tem dias que queremos nos enrolar no edredom e não parar de encarar a parede. Tem dias que evitamos as pessoas e horas depois aparecemos pulando de alegria. Podemos pensar coisas horríveis como "preferia não ter nascido", "todos os meus amigos me odeiam", "minha família vai desistir de mim". Nosso próprio corpo, nossa mente se volta contra nós e programa coisas absurdas que somos forçados a acreditar. Deprimimos. E depressão não é se sentir triste. "Ah, perdi a reprise da novela, estou muito triste, estou deprimida." Não. Depressão dá vontade de não existir, não se mover, não comer. Uma palavrinha errada que escutamos e podemos cair em prantos ou sair batendo portas. Então, se você está lendo isso e sofre de algum transtorno psicológico, porra, olha para você! Você está aqui. Você está vivo. Você está lendo essa joça. Você sobreviveu a incontáveis dias de merda e ainda está aqui, então você tem a capacidade de lutar mais e continuar aqui. Sua cabeça tenta te menosprezar todos os dias e ainda assim, você continua aqui. Por que não estamos celebrando isso?
Para os que estão aqui e não sofrem de transtornos psicológicos, olhem ao redor. Um amigo de vocês pode estar precisando de ajuda. Não estou falando daquela ajuda fajuta de mandar uma mensagem "Pode contar comigo" e sumir. A ajuda necessária é estar presente, mostrar que aquela pessoa é especial e importante, que ela é uma vencedora. É checar como ela estar. Motivá-la a não desistir. (Mas de forma alguma entre nessa se você sente que a pessoa é "difícil de lidar". Você não vai ajudar, vai prejudicar pois vai acabar a abandonando quando ela sentir que pode contar com você.) Seja forte por você e pela pessoa que precisa da sua ajuda. Entenda que os rompantes de raiva que ela tem não são totalmente culpa dela. Na maioria dos casos, ela está se esforçando para agir naturalmente, mas quando não der, somos vulcões em erupção. Aguente a lava com amor.
Não tem problema algum admitir que tem um transtorno diagnosticado. Só não se entregue a ele e não justifique todos os seus atos com a desculpa de ter uma doença. Quer saber? Faz melhor. Luta contra. O transtorno pode estar dentro de você, misturado em você como uma poção venenosa, mas ele não é você. Então mostra para todo mundo que você é muito mais que uma doença, porque você é.
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